Dos novos saberes básicos dos alunos e das novas competências dosprofessores do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Palavras-chave: Supervisão, Formação de Professores, Perfil de competência profissional, Educação Básica (1.º Ciclo), Saberes básicos, Complexidade, Cidadania

Resumo

As mudanças sociais que, na actualidade, pressionam e desafiam a Escola, nomeadamente quanto aos papéis, funções e desempenho dos professores, implicam a necessidade de repensar a sua formação para que possam responder mais adequadamente aos desafios emergentes. Estes têm particularmente a ver com os novos saberes que essas condições exigem a todos os cidadãos e que são entendidos, do ponto de vista epistemológico, como saberes para agir responsavelmente. Neste sentido, e com o intuito de aprofundar estas questões foi desenvolvido, entre 2004 e 2008, um estudo de Doutoramento inscrito na rede de cooperação científica “Novos saberes básicos dos cidadãos no século XXI, novos desafios à formação de professores”. Esta investigação, de natureza qualitativa, desenvolveu-se de acordo com as abordagens próprias da complexidade e da sistémica, das quais relevamos os princípios da totalidade - em que os fenómenos são percebidos como sistemas globais e dinâmicos - e da recursividade, ao admitirmos a relação dialéctica entre os diversos subsistemas considerados. Do ponto de vista metodológico, e no sentido de construir uma visão integrada o objecto em estudo, foi utilizado um conjunto de procedimentos específicos, nomeadamente revisão de literatura, inquirição por questionário e por entrevista semi-estruturada (mixed-methods). Quanto aos resultados, podem ser lidos em função de três eixos. Relativamente ao primeiro, que genericamente se refere à evolução dos saberes básicos dos alunos, os contributos parecem sugerir a necessidade de alicerçar os processos de ensino/aprendizagem não apenas nas competências para ler, escrever e contar, como também no desenvolvimento de outros saberes básicos de natureza geral e transversal, tais como aprender a aprender, aprender a conviver e aprender a fazer numa perspectiva de resolução de problemas, que sintetiza o aprender a ser. O segundo eixo de leitura tem a ver com as competências requeridas aos professores para o desenvolvimento desses saberes percebidos como estruturantes dos processos de desenvolvimento. Os dados recolhidos na fase extensiva do estudo sugerem que o referencial de competências dos professores do 1.º CEB deve integrar as dimensões as mesmas dimensões, sendo valorizadas as competências de reflexão crítica, de aprender a aprender, bem como o desenvolvimento do conhecimento profissional nas suas múltiplas dimensões. O terceiro eixo relaciona-se com a qualidade das ambiências e das culturas de formação e de supervisão facilitadoras das aprendizagens de alunos e de professores. De um modo geral, os dados sugerem que ambientes que possibilitem uma dimensão de prática curricular alargada, em contextos diversificados e que valorizem os princípios do respeito pela pessoalidade e da reflexão crítica, parecem adequar-se melhor ao desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, no contexto das sociedades contemporâneas. Globalmente, é possível verificar que os eixos considerados remetem para um conjunto recursivo de saberes e de competências que, em diferentes níveis, implicam um compromisso com a acção, numa visão de mundo comprometida com as ideias de bem comum, ou seja, de cidadania universal.

Publicado
2010-09-06
Como Citar
Silva, A., & Sá-Chaves, I. (2010). Dos novos saberes básicos dos alunos e das novas competências dosprofessores do 1.º Ciclo do Ensino Básico. Indagatio Didactica, 2(2), 5-32. https://doi.org/10.34624/id.v2i2.4584
Secção
Supervisão