A construção óptica da imagem e a problematização dos estereótipos de gênero: experiências de uma sequência didática baseada na purpurina
Resumo
A fim de enfrentar o distanciamento histórico de meninas do conhecimento científico e compreendendo que a ciência é inseparável do contexto histórico e cultural no qual se insere, apresentamos as experiências sobre o desenvolvimento e a aplicação de uma Sequência Didática (SD) baseada na estratégia metodológica dos três momentos pedagógicos de Muenchen e Delizoicov associada ao enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade. O Carnaval brasileiro, palco de múltiplas expressões de gênero e de sexualidade, foi categorizado como tema gerador pela perspectiva freireana e levou à problematização dos estereótipos de gênero a partir da relativização da imagem enquanto fenômeno óptico e culturalmente significado, caracterizando o primeiro momento pedagógico da SD. No segundo momento, foram desenvolvidos os conteúdos disciplinares de física, biologia e química que permitiram a compreensão da formação óptica da imagem e sua relação com características físicas de luz e da composição do objeto, o que foi mediado por um experimento investigativo de observação de diferentes purpurinas sob a luz visível e ultravioleta. Por meio de um estudo de caso sobre o uso da purpurina, as alunas foram conduzidas à argumentação sobre a construção social da imagem e os estereótipos de gênero à luz da relativização da própria imagem óptica. Apesar das dificuldades apresentadas quanto aos conceitos das ciências da natureza, as estudantes das duas escolas públicas participantes foram engajadas nos processos de constituição da argumentação científica, deslocando-as da situação de desconforto normalmente experimentada em tais situações.
Downloads
Referências
Bourdieu, P. & Passeron, J. C. (2018). A reprodução (7ª ed.). Editora Vozes.
Butler, J. P. (2018). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade (1ª ed.). Editora Civilização Brasileira.
Caproni Neto, H. L. (2015). Teoria queer e as diferenças. Cadernos De Pesquisa, 45(155), 221–225. https://doi.org/10.1590/198053143041
Costa, J. M., & Pinheiro, N. A. M. (2013). O Ensino por meio de temas-geradores: a educação pensada de forma contextualizada, problematizada e interdisciplinar. Imagens da Educação, 3(2), 37-44. doi: 10.4025/imagenseduc.v3i2.20265
da Silva, C. G. N. (2023). “Parece que é transviado”: a purpurina como possibilidade de ressignificação de identidades a partir do ensino de química. Universidade Federal do Rio de Janeiro. http://hdl.handle.net/11422/21618
Lima, A.A., Núñes, I.B. (2011). Reflexões acerca da natureza do conhecimento químico: uma
investigação na formação inicial de professores de química. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 11(3), 209–229.
Keller, E. F. (2006). Qual foi o impacto do feminismo na ciência. Cadernos Pagu, 27, 13–34.
Miranda, A.C.G., Pazinato, M.S., & Braibante, M.E.F. (2017). Temas Geradores Através de Uma Abordagem Temática Freireana: Contribuições Para O Ensino de Ciências. Revista de Educação, Ciências e Matemática, 7(3) 73-92.
Moraes, R. (1999). Análise de Conteúdo. Revista Educação. 22(37), 7-32.
Muenchen, C., & Delizoicov, D. (2014). Os três momentos pedagógicos e o contexto de produção do livro “Física”. Ciência & Educação (bauru), 20(3), 617–638. https://doi.org/10.1590/1516-73132014000300007
Nucci, M.F. (2018). Crítica feminista às ciências: das “feministas biólogas” ao caso das “neurofeministas”. Revista Estudos Feministas. 26(1), 1-14. http://dx.doi.org/10.1590/1806-9584.2018v26n141089
Santaella, L. (2005). Semiótica aplicada (1ª ed.). Pioneira Thomson Learning.
Santos, W. L. P. & Mortimer, E. F. (2002). Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem C-T-S (Ciência – Tecnologia – Sociedade) no contexto da educação brasileira. Revista de Educação em Ciências, 2(2), 1–23.
Santos, W. L. P. (2012). Educação CTS e cidadania: confluências e diferenças. Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, 9(17), 49–62.
Schiebinger, L. (2001). O feminismo mudou a ciência? (1a ed.). Editora da Universidade do Sagrado Coração.
Silva, F. A. N. G. et al. (2022). Análise do perfil de gênero em cursos de engenharia da UFRJ: ingresso e conclusão. In A. M. Tonini & T. R. D. S. Pereira (Eds.), Mulheres na engenharia: desafios e oportunidades no ensino, pesquisa e extensão em STEAM (pp. 137-147). Associação Brasileira de Educação em Engenharia.
Simai, S. (2007). Carnaval e política. Encontro: Revista de Psicologia. Encontro: Revista de Psicologia, 11(16), 25–36.
Strieder, R. B, Kawamura, M. R. D. (2017). Educação CTS: Parâmetros e Propósitos Brasileiros. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 10(1), 27–56.
Urel, D. E. (2022). Paulo Freire e os três momentos pedagógicos. Scientia Naturalis, 4(1), 49–59.https://doi.org/10.29327/269504.4.1-4
Zabala, A. (1998). A prática educativa: como ensinar. Artmed.
Zitkoski, J. J. & Lemes, R. K. (2015). O Tema Gerador Segundo Freire: base para a interdisciplinaridade. IX Seminário Nacional Diálogos com Paulo Freire: Utopia, Esperança e Humanização, 1-10. https://www2.faccat.br/portal/sites/default/files/zitkoski_lemes.pdf
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
Os autores mantêm os direitos de autor pelo seu trabalho, cedendo os direitos de primeira publicação à revista.
A Revista Indagatio Didactica tem os requisitos da licença CC BY 4.0