Gilbert Lewis e a Natureza da Ciência: Reflexões sobre a construção social do conhecimento científico a partir de um Estudo de Caso
Resumo
A compreensão sobre a construção social do conhecimento científico, embora seja importante, ainda é deixada em segundo plano no contexto do ensino de ciências. Estudos em História e Filosofia da Ciência vêm se mostrando um caminho para abordagem de aspectos da Natureza da Ciência (NdC) em sala de aula. Diante disso, nesse estudo, nosso objetivo foi propor e validar um Estudo de Caso histórico sobre Gilbert Lewis, além de avaliar as potencialidades dessa abordagem na aprendizagem de aspectos da Natureza da Ciência e investigar as concepções prévias de estudantes da Educação Básica sobre os cientistas e o processo de construção do fazer científico. Por meio de uma abordagem qualitativa, desenvolvemos a aplicação do Estudo de Caso com estudantes do 2o ano do Ensino Médio de uma escola pública de Brasília – Brasil e analisamos, por meio da Análise Textual Discursiva, os instrumentos de coleta de dados, quais sejam: o Draw a Scientist Test (DAST), questões adaptadas do Questionários Views of the Nature of Science (VNOS), além de outros questionários. No Estudo de Caso abordamos um episódio histórico que explicita a construção da Teoria dos Pares Compartilhados de 1923, em que se passa a entender melhor a formação da Regra do Octeto e as várias relações interpessoais como interferentes do fazer científico e da vida do cientista em questão. Os resultados evidenciam que, no geral, os estudantes apresentavam inicialmente uma visão estereotipada do cientista, sendo pouco evidente a presença do trabalho coletivo ou de mulheres na ciência. Com relação aos aspectos da NdC, evidencia-se que os estudantes, no geral, passaram a ver a ciência a partir de uma perspectiva sociocultural, além de compreender que a construção do conhecimento científico não se dá de maneira linear, após a discussão do Estudo de Caso histórico. Desse modo, defendemos que a inserção da história e da filosofia da ciências nas aulas pode humanizar e aproximar os estudantes da ciência.
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