Vinho e azeite em simbiose

Análise da presença online das empresas de Eno-Olivoturismo na região vitivinícola do Douro

Palavras-chave: Património Alimentar Vinho & Azeite, Eno-Olivoturismo, Avaliação de Websites, Douro.

Resumo

“Uma vez que as vinhas e os olivais partilham áreas geográficas, a combinação de experiências de enoturismo com olivoturismo pode resultar em sinergias na economia local. Assim, os gestores do turismo do azeite e do vinho podem necessitar de trabalhar em estreita colaboração.” (Hwang & Quadri-Felitti, 2021, p.13).

Em linha com a ideia de Hwang & Quadri-Feltti (2021), este estudo pretende compreender de que modo as quintas de enoturismo da região do Douro promovem a simbiose dos Patrimónios Alimentares (PA) vinho e azeite. O Eno-Olivoturismo é um nicho de mercado ou, um Turismo de Interesse Especial (SIT) (Pulido-Fernández et al., 2019, 2020; Parrilla-González et al., 2020) envolvendo experiências criativas de vinho e azeite, revelando consciência de sustentabilidade, promovendo a cultura local, e sendo um catalisador da imagem do destino. No entanto, a revisão da literatura mostrou falta de estudos que abordassem as sinergias entre os produtos endógenos (tais como o azeite e vinho), com o turismo.

No sentido de acrescentar algo à ciência, foi escolhida uma abordagem integrativa, seguindo as premissas de Pyo, (2015) e Kotler et al. (2006). Para Pyo (2015), “Integrar funções de segmentação, mercados e posicionamentos (SMP) turísticos pode ser benéfico para o marketing do destino. A integração destas funções estabelece-se mediante um vínculo entre os atributos do destino (entre as quais os produtos endógenos e os PAs), as necessidades e desejos dos turistas, e reconhecendo a contribuição sistémica de cada função e das suas inter-relações” (Pyo, 2015, p.253-254). Para Kotler et al. (2006), o sucesso desta teoria depende de uma forte estratégia de informação e comunicação, que é justificada por Natter et al., (2008) como geradora de maior eficiência organizacional. Assim, a integração do azeite na experiência de enoturismo, pode contribuir para a competitividade dos destinos, atração de visitantes e diferenciação da oferta.

Para dar notoriedade a produtos, serviços, experiências e territórios e ainda permitir a comunicação entre pessoas, a Internet tornou-se numa fonte de informação turística de elevada qualidade, com um número crescente de turistas a consultar a gama de produtos e serviços oferecidos (Cristóbal-Fransi, et al., 2013). A partir de uma ótica de oferta, Chung & Buhalis (2008) acreditam em websites e redes sociais como importantes ferramentas de informação, comunicação e marketing, sendo construtores de reputação e influenciadores de consumo. Zhang & Dran, (2002) e Chen & Macredie (2005) reforçam, dizendo que os websites são a primeira referência que os clientes têm para formar uma opinião da organização e da sua oferta.

Visando compreender o grau de maturidade da informação constante nos websites das quintas de enoturismo do Douro, quanto à integração do azeite e vinho nas experiências, propusemos um Modelo de Avaliação de websites inspirado na metodologia eMICA (Extended Model of Internet Commerce Adoption) (Burgess & Cooper, 1998, 2000, 2002; Ting, 2013), tomando oito domínios em conta (em vez dos quatro originais do constructo): organizacional, informacional, promocional, relacional, transacional, interatividade, multimídia e design e médias sociais. Para a obtenção de informação foi adotada uma metodologia qualitativa, analisando o conteúdo dos websites de 290 empresas vitivinícolas onde 146 tinham presença online e 35 eram também produtores de azeite. Assim, o foco esteve nos 35 produtores de azeite e de vinho.

Os resultados mostraram a necessidade de dar maior atenção à qualidade da informação comunicada e às estratégias de interação com os visitantes. Quanto às sinergias associadas ao vinho e ao azeite, existe uma lacuna significativa nas áreas da comunicação integrada e do marketing. As limitações deste estudo são o seu confinamento a uma região vinícola específica (Douro) e uma abordagem única do ponto de vista da oferta.

Em relação às contribuições para as empresas, recomendamos que os gestores definam estratégias mais interativas para o seu website, pois uma atrativa presença online poderá gerar um impacto positivo na imagem da organização, com os consequentes benefícios no desenvolvimento do negócio (Dedrick, Gurbaxini & Kraemer, 2003; Can & Alatas, 2017). Para tal, sugerimos uma série de orientações na conceção do site corporativo do eno-olivoturismo, que deverá incluir um conjunto de funcionalidades básicas ligadas às oito dimensões propostas. Uma presença eficaz na Internet significará melhores resultados, quer no número de visitas, quer no número de reservas efetuadas.

Biografias do Autor

Josefina Olívia Salvado, Govcopp e DIAITA

Josefina Salvado é docente na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Departamento de Geografia e Turismo), possuindo: Doutoramento em Turismo (UA-Universidade de Aveiro); Mestrado em Gestão e Desenvolvimento em Turismo (UA); MBA em Marketing (IESF - Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais); Licenciatura em Auditoria (UA-ISCAAv) e Licenciatura em Economia (Universidade de Coimbra – Faculdade de Economia). Frequenta o Doutoramento em Patrimónios Alimentares, Culturas e Identidades (Universidade de Coimbra – Faculdade Letras).

Investigadora integrada no CECH (Centro de Estudos Clássicos e Humanidades da Universidade de Coimbra) no Projeto DIAITA e investigadora associada da GOVCOPP (Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas - Turismo) vinculada à Universidade de Aveiro.

Está integrada no Projeto Internacional Olive4All - Olive Heritage for Sustainable Development: Raising Community Awareness of Living Heritage (Instituto Politécnico de Leiria). Foi investigadora nos projetos INNOVINE&WINE (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), CREATOUR (CIDEHUS - Universidade Évora) e ”TWINE – Co-creating sustainable Tourism & WINe Experiences in rural areas” (Universidade de Aveiro).

Sandra Bebiana Monteiro, ESHT-IPP

Afiliação

Professora na Escola de Hotelaria e Turismo do Politécnico do Porto

Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Enoturismo e de Sommelier

Doutoranda em Turismo (Universidade de Coimbra)

Membro Colaborador do CiTUR - Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo

Biografia

Engenheira Alimentar pela Universidade Católica do Porto;

Membro Efetivo da Ordem dos Engenheiros;

MBA em Gestão pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Mestre em Enologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Especialista em Hotelaria Gestão e Restauração pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo (ESHT) do Politécnico do Porto (P.Porto).

Tem experiência anterior em produção e gestão de qualidade na Região da Bairrada; enologia e consultoria nas regiões vitivinícolas dos Vinhos Verdes, Douro, Trás-os-Montes, Dão e Lisboa; seleção e formação de um painel de provadores de Vinho do Porto e Verde e gestão do enoturismo e do enoturismo do primeiro hotel vínico da Região dos Vinhos Verdes.

Membro da Global Wine Tourism Organizations & The Enotourism Academy, além de lecionar, coordena projetos de enogastronomia, a Wine School e os Cursos de Pós-Graduação em Enoturismo e Sommelier Executive Program da ESHT, P.Porto.

Publicado
2025-05-06
Como Citar
Salvado, J., & Monteiro, S. (2025). Vinho e azeite em simbiose. Revista Turismo & Desenvolvimento, 48, 84-116. https://doi.org/10.34624/rtd.v48i0.34378
Secção
Artigos