Património de discórdia: gravuras paleolíticas, turismo e os fantasmas da barragem do Côa (Portugal)
Resumo
Os processos de patrimonialização e consequente desenvolvimento turístico dos territórios estão sujeitos, amiúde, a aspirações e interesses incompatíveis, de que resultam intensas disputas sociais. Neste artigo propomo-nos a analisar estas dissensões no Vale do Côa, tendo em conta que, neste contexto, a valorização do património paleolítico (e do turismo) em detrimento da construção da barragem hidroelétrica tem sido nas últimas décadas o grande dínamo das disputas locais quanto aos caminhos de desenvolvimento a seguir. Para tal, partimos de uma perspetiva declaradamente emic, procurando compreender a diversidade tensional de entendimentos, experiências e narrativas dos autóctones no âmbito da preservação e da exploração turística do património arqueológico. Os elementos empíricos que sustentam a análise resultam, predominantemente, do trabalho de campo etnográfico realizado no Vale do Côa e de 15 entrevistas semidirigidas a habitantes locais.