Patrimónios, turismo cultural e desenvolvimento local: o baixo Mondego em perspectiva

  • Claudete Oliveira Moreira Universidade de Coimbra
  • Norberto Santos Universidade de Coimbra
Palavras-chave: Território, Baixo Mondego, Patrimónios, Cultura, Turismo, Desenvolvimento local

Resumo

Objectivos |
– (Re)Criar um território assumido como unidade de paisagem, o Baixo Mondego, estruturado pelo eixo urbano Coimbra- Figueira da Foz; organizado longitudinalmente em torno do maior rio português desenha uma rede de lugares rurais e urbanos de funcionalidades complementares com grande expressão potencial nas actividades de lazer e de turismo.
– Conhecer e avaliar os recursos patrimoniais, naturais e culturais, materiais e intangíveis, valorizá-los como produto turístico e potenciá-los, integrando-os numa estratégia de desenvolvimento local.
– Identificar usos, percepções e representações dos residentes no território sobre as potencialidades turísticas e as acções de valorização adoptadas.
– Aferir o nível de consenso entre os actores locais e regionais na definição de estratégias de acção para potenciar turisticamente este território, perspectivando formas de relação e de cooperação territoriais capazes de promover o desenvolvimento local assente na criação de um turismo diferenciado e alternativo.
– Definir rotas e territórios âncora que possam ter papel significativo no marketing territorial.
– Perspectivar a criação de um observatório para o turismo no Baixo Mondego.

Metodologia | O presente trabalho cruza métodos e técnicas de investigação que são comuns às Ciências Sociais combinando, na análise do território do Baixo Mondego, metodologias de análise quantitativa e qualitativa. Faz uso da estatística descritiva e indutiva para analisar tendências temporais e padrões espaciais de indicadores ligados ao lazer e ao turismo. Recorre aos Sistemas de Informação Geográfica para conhecer as dinâmicas territoriais recentes bem como a organização actual do território. Contempla o levantamento e a georreferenciação dos recursos patrimoniais, naturais e culturais, passíveis de se constituírem como estratégicos para o planeamento e o marketing de um território turístico articulado e coeso, e para fazer uma análise espacial das ofertas em turismo. Estrutura como instrumento de recolha um inquérito por questionário junto dos que fazem uso dos recursos patrimoniais do território num tempo e num espaço, que é quotidiano, de lazer. Aplica a técnica Delphi procurando envolver investigadores, representantes dos poderes públicos, agentes culturais locais, empresários e promotores turísticos, com o intuito de obter conhecimento, estabelecer objectivos, procurar soluções para constrangimentos vários e efectuar análises prospectivas no âmbito de uma estratégia de desenvolvimento local assente no turismo.

Principais resultados e contributos | Numa altura em que a investigação prática e aplicada com valor social, com relevância no âmbito das políticas públicas locais e regionais, adquire expressividade, é importante que a investigação académica imponha uma selectividade espacial nas políticas de planeamento e nas estratégias de desenvolvimento turístico. Com a compreensão da organização espacial espera-se vir a ter, como resultado final, um valor operativo neste domínio. Ao fazer uma investigação aplicada a um território, o Baixo Mondego, e a um tema, os patrimónios e o turismo cultural, pretendem inspirar-se modelos de aplicação a outras áreas e contribuir para uma nova dinâmica de acção local.

Limitações | Os constrangimentos que este trabalho encontra são certamente partilhados por outras investigações nacionais em Geografia e Turismo. Com uma análise centrada na escala local, ainda que necessariamente se imponha como multi-escalar, regional e nacional, por imperativos de contextualização e de compreensão, as limitações prendem-se, fundamentalmente, com o nível de desagregação da informação estatística, nomeadamente, de muitos dos indicadores que se ligam com o lazer e com o turismo. A necessidade de combinar dados de diferentes fontes e instituições que nem sempre adoptam os mesmos critérios de recolha e de sistematização. A recorrente ausência de informação sobre os utilizadores e a procura que se direcciona para o património, natural e cultural. A dificuldade de aceder a cartografia pormenorizada e actualizada, principalmente a cartografia de pormenor para uma área com esta extensão. No que se refere aos instrumentos de recolha de dados desenhados para esta investigação, especificamente, as limitações decorrem da representatividade das amostras, sempre comprometedoras de generalizações. Relativamente à aplicação da técnica Delphi, dada a quantidade e diversidade de actores sociais locais envolvidos na promoção das actividades de lazer e de turismo, conseguir um painel suficientemente representativo e comprometido até ao final da investigação apresenta-se como um desafio. Para além de tudo isto, reconhece-se que este estudo apesar de partilhar princípios gerais em termos de estratégias de desenvolvimento local no âmbito do turismo se aplica a um território específico, pelos que as inferências, apesar de válidas, devem atender a este pressuposto.

Conclusões | É, hoje, inquestionável que o turismo assume uma importância global. Contudo, é à escala local e regional que se organiza uma parte muito significativa do sistema turístico. Ora é precisamente nestas escalas geográficas que, enquadrados nas políticas nacionais definidas para o turismo, os actores locais se envolvem na dinamização dos recursos, dos patrimónios e na definição de estratégias de valorização e de afirmação do território. São os agentes públicos, privados e associativos que definem, em primeira instância, os ordenamentos a efectuar, as prioridades de reabilitação, de requalificação, de preservação, de conservação, de salvaguarda e de divulgação, que estabelecem redes, que desenvolvem parcerias, que promovem as ofertas, integrando, de forma crescente, as comunidades locais. Valorizar esta escala na definição de uma política para o turismo é absolutamente imperioso. O Baixo Mondego, território com uma socioeconomia marcadamente agrícola e terciária, tem assistido, desde meados do século XX, a importantes transições geográficas com reflexos nas suas paisagens. Este espaço sub-regional possui importantes recursos e potencialidades turísticas. Integrando um conjunto de lugares que desempenharam, historicamente, um papel de relevo como destinos de lazer e de turismo, os centros urbanos de Coimbra e da Figueira da Foz polarizaram parte importante dos fluxos, equipamentos e recursos. Hoje, repensa-se a actividade turística, segmentam-se as procuras, encontram-se nichos de actividades turísticas, em que o cultural e o natural adquirem especial significado tornando os territórios e lazeres periurbanos em parceiros do turismo cultural urbano. Amplia-se assim o papel dos actores locais na procura do tradicional e do original, para inovar e competir nas mais variadas escalas, através de modos diversos de patrimonialização. Actualmente as actividades tradicionais que caracterizam os territórios tendem a reconfigurar-se pelo que importa ver como é que este território, especificamente, tem respondido às novas dinâmicas da socioeconomia contemporânea e, principalmente, avaliar e perspectivar formas de cooperação local e regional que definam e concretizem uma política que, centrada no turismo, seja promotora do desenvolvimento local.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Moreira, C. O., & Santos, N. (2010). Patrimónios, turismo cultural e desenvolvimento local: o baixo Mondego em perspectiva. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 1087-1088. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12929
Secção
Desenvolvimento e Sustentabilidade