O turismo inteligente: a cultura e a natureza: o parque natural do Vale do Guadiana

  • Victor Sacramento Figueira Instituto Politécnico de Beja
  • Francisco Martins Ramos Universidade de Évora
Palavras-chave: Turismo, Cultura, Natureza, Áreas protegidas

Resumo

Objectivos | Pretendeu-se, com este trabalho, desenvolver uma reflexão e análise relativas ao desenvolvimento e conservação dos recursos naturais, apresentando como veículo do desenvolvimento sustentável numa área protegida a aposta na prática de actividades turísticas adequadas. Assim, o seu objectivo geral foi o de viabilizar uma melhor e mais rentável adequação da actividade turística, do conjunto de recursos naturais, humanos, económicos,sociais,culturais, assim como das infra-estruturas existentes no Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG). Como objectivos específicos, salientam-se a necessidade de saber qual importância da conservação dos recursos naturais, para o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais e o levantamento, através da perspectiva dos agentes regionais e locais e das comunidades rurais, da capacidade de produção e integração de actividades turísticas, com vista à dinamização do PNVG, e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.

Metodologia | O trabalho efectuado pode classificar-se como de pesquisa descritiva, na medida em que realiza a descrição de variadosfactos,mastambém de pesquisa analítica e explanatória, pois procura igualmente estabelecer relações entre as diversas variáveis, assim como determinar a natureza dessa relação. Recorreu-se a técnicas documentais para efectuar a revisão bibliográfica e a análise de conteúdo, no tratamento dos dados recolhidos das entrevistas realizadas às diferentes entidades; técnicas não documentais, nomeadamente, a observação directa e/ou participante, na aplicação dos questionários por administração directa e na realização das entrevistas; técnicas de amostragem, por conveniência e intencionais; técnicas estatísticas para o tratamento dos dados. Este estudo de caso teve como alvo principal as pessoas que mais directamente influenciam ou podem influenciar o território que delimita o PNVG. Foram também aplicados inquéritos on-line onde se pretendeu aferir informações detalhadas a propósito de questões particulares relativas à existência actual de actividades turísticas nas áreas protegidas e desenvolvidas pelas Empresas de Animação Turística no seio das áreas protegidas em Portugal Continental.

Principais resultados e contributos | Face ao resultado do inquérito por questionário aplicado, pode-se referir que os residentes no PNVG são, essencialmente, constituídos por pessoas de meia-idade, casados, que apresentam um nível de escolaridade médio, com rendimentos médio/baixos) onde existe um número considerável cuja situação profissional se situa na condição de reformados. Uma das lacunas identificadas foi o facto da maioria dos residentes não conhecer os objectivos da criação do Parque Natural nem receber quaisquer informações relativas às actividades desenvolvidas no mesmo. Se, por um lado, a primeira questão pode evidenciar uma falta de interesse por parte dos residentes, a segunda questão revela-se preocupante na medida em que não favorece, de modo algum, o desejo de um maior conhecimento e relativamente à gestão do mesmo.Apesar da maioria dos inquiridos considerar bom o facto de residir nesta área, existem alguns aspectos críticos relacionados, essencialmente, com o uso do solo e os urbanísticos que não são vistos com bons olhos. A actividade turística é vista, pela maioria, como benéfica para a região do parque, potenciando eventuais empregos e melhor qualidade de vida. Já a região é considerada como tendo razoáveis condições para a recepção de turistas, destacando-se como elementos de atracção principais, a paisagem, o contacto com a natureza e a gastronomia. A percepção dos residentes quanto às actividades turísticas mais adequadas à região, leva-os a evidenciar, a “canoagem”, os “passeios a pé”, a “caça”, a “pesca”, a “observação de aves”, os “passeios de barco”, a “observação de flores silvestres”, os “passeios de bicicleta”, o “btt” e as “expedições fotográficas”, sendo que a maioria dos inquiridos se disponibiliza de forma voluntária para participar nas actividades turísticas. As entidades públicas e privadas, têm uma percepção geral a propósito do benefício que o turismo pode trazer à região, donde ressalta a necessidade de um bom relacionamento com a administração/gestão do PNVG, no sentido de se poderem desenvolver acções conjuntas que possibilitem uma mais valia para a região. Consideram também que existem algumas falhas ao nível das infra-estruturas que possam potenciar esse desenvolvimento e das condições básicas em algumas localidades, que em nada favorecem o investimento nessa área, bem como questões que se prendem com a navegabilidade do rio Guadiana.

Limitações | Na realização deste trabalho colocaram-se também algumas dificuldades que, apesar de se procurarem ultrapassar, constituíram limitações ao mesmo. Destacam-se a informação desagregada disponível sobre a área do PNVG e, em particular, sobre as freguesias que o integram; a inexistência de dados estatísticos relativos à actividade turística; a elevada desagregação ao nível das localidades/povoações que integram a área em estudo e o elevado nível de envelhecimento da população face ao distanciamento/receio que muitas pessoas idosas revelaram na colaboração directa com o investigador.

Conclusões | Constatou-se que o nível de desenvolvimento turístico do PNVG é verdadeiramente incipiente e que existem fortes constrangimentos ao nível da organização da oferta e da concepção do produto turístico. O turismo numa área protegida tem a ver não só com a administração/gestão dessa mesma área, mas também com os municípios, enquanto organismos do poder público (a quem cabe a responsabilidade de dar início ao processo de planeamento do turismo), ao movimento associativo nessa região, até ao residente individual (através da sua disponibilidade, participação, simpatia, etc). O trabalho realizado procurou, nomeadamente, identificar os constrangimentos existentes ao nível do desenvolvimento da actividade turística no PNVG com base na informação recolhida para, de seguida, identificar quais os aspectos cuja resolução seria prioritária. Considera-se que este trabalho pode vir a constituir um instrumento útil e válido enquanto apoio à decisão, em particular aos responsáveis pela definição das actividades turísticas, à administração do Parque e às Câmaras Municipais que integram a região em estudo. Entende-se que só depois destes problemas estarem resolvidos ou a caminho de o serem,se poderá, de forma sustentada, dizer que o Parque Natural do Vale do Guadiana está “preparado para atrair e receber devidamente os turistas”. Desta forma um turismo que sirva a defesa dos recursos locais, o respeito pelo ambiente, tenha em conta a opinião dos residentes,cujo modelo de gestão seja adequado à área,melhore a qualidade de vida dos residentes,valorize o património existente e fixador das gerações mais jovens – um turismo inteligente – é desejável,sobretudo em zonas muito fragilizadas em termos económicos e sociais.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Figueira, V. S., & Ramos, F. M. (2010). O turismo inteligente: a cultura e a natureza: o parque natural do Vale do Guadiana. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 1081-1082. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12909
Secção
Desenvolvimento e Sustentabilidade