Novos produtos turísticos e a gestão do território: a situação da região do Oeste

  • Tânia Galvanito Vicente Universidade Nova de Lisboa
  • Margarida Pereira Universidade Nova de Lisboa
Palavras-chave: Turismo residencial, Resorts, Gestão do território

Resumo

Objectivos | Compreender o modo de articulação das orientações do P.E.N.T. 2006-2015 com a estratégia preconizada no modelo territorial para a Região do Oeste (P.R.O.T.-O.V.T.); analisar o processo de integração do turismo no ordenamento do território regional e local; e perceber a estratégia e a gestão turística adoptada na sub-região do Oeste e as suas repercussões territoriais. Pretende-se, em concreto, compreender o contributo dos resorts para a efectiva geração de riqueza local e a avaliação dos seus impactes locais directos, e ainda identificar as vantagens decorrentes da aposta num empreendimento “auto-suficiente”.

Metodologia | A primeira parte corresponde ao enquadramento da problemática em estudo, onde se definiram os objectivos gerais e específicos da investigação, bem como o processo e metodologia adoptados.A segunda parte pretende reflectir sobre a articulação do turismo e o ordenamento do território em Portugal integrando, nomeadamente: um resumo das principais orientações de política nacional nas últimas décadas; a evolução dos modelos de desenvolvimento; uma abordagem ao conceito e implicações territoriais do turismo residencial, bem como uma análise ao turismo de golfe, relevando a sua crescente representatividade em Portugal. Esta parte inclui ainda a análise da integração do uso turístico nos instrumentos de gestão territorial em Portugal. A terceira parte consiste numa abordagem específica ao desenvolvimento turístico do pólo de desenvolvimento turístico do Oeste contemplando, nomeadamente, o estudo das características gerais, perfil e modelo de gestão adoptado nos resorts em funcionamento e previstos em Torres Vedras e Óbidos.

Principais resultados e contributos | Em Portugal os resorts têm vindo a crescer exponencialmente, estimando-se no final do primeiro semestre de 2009 mais de 160 resorts com uma superfície média de cerca de 450 ha, metade dos quais localizados na Região doAlgarve.A oferta turística de resortscontempla: hotéis de 5 estrelas (salvo raras excepções); oferta diversificada de unidades residenciais; oferta variada de restaurantes e animação nocturna; estabelecimentos comerciais de qualidade; campo(s) de golfe (geralmente de 18 buracos); serviço de SPA e/ou talassoterapia (por vezes); salas de conferências e congressos; áreas de desporto e Fitness center; outros equipamentos (por exemplo um centro hípico). Identificado pelo P.E.N.T. 2006-2015 como um dos pólos de desenvolvimento turístico, o Oeste assume-se como uma área de excelência para a instalação de campos de golfe e resorts, estimando-se que nesta sub-região ocorra uma duplicação do actual número de resorts a curto/médio prazo. De acordo com a ILM Hospitality &TourismAdviser, ES Research, o Oeste acolherá 12,6% do investimento previsto para o país e 10,3% do total de unidades estimadas, com maior incidência nos concelhos de Óbidos e Torres Vedras. Enquadrados em propriedades com dimensão superior a 70 ha e distribuídos equitativamente pelo litoral e interior do território, os resorts destes concelhos possuem características semelhantes, em termos de dimensão, e na própria oferta turística. Concebidos maioritariamente a partir de um (às vezes mais) campo de golfe, os novos investimentos nascem sobretudo nas áreas rurais (com uma ocupação predominantemente florestal ou agrícola).As necessidades de espaço que a prática desta modalidade implica, obrigam à utilização de terrenos ainda pouco ocupados com uma localização mais interior, e quase sempre áreas de protecção de ecossistemas frágeis.

Limitações | A pesquisa bibliográfica nacional e internacional realizada – articulação entre o turismo e o ordenamento do território – ainda carece de aprofundamento, o que, por um lado, torna esta temática de certa forma inovadora, mas por outro, constitui um aspecto negativo, dada a sua importância e implicações inerentes. A ausência de uma definição clara do conceito de resort e a falta de abertura por parte dos promotores dos resorts estudados para a prestação de esclarecimentos e informações relativamente às suas características e modo de funcionamento, conduziu a que os contributos e conclusões fossem condicionados.

Conclusões | Do ponto de vista do ordenamento do território, os resorts possuem aspectos positivos que importa realçar: promovem a utilização e qualificação de territórios com fraca produtividade agro-florestal; imprimem uma nova dinâmica para os territórios rurais, através da criação de novos pontos de atracção turística; contribuem para a promoção do desenvolvimento local, assente na atracção de turistas de elevado poder de compra; e reforçam a atractividade dos territórios, através do impacte visual positivo dos campos de golfe. Contudo, a sistemática substituição de territórios agrícolas e florestais por extensos relvados consumidores de solo, água e fertilizantes, contribui fortemente para a descaracterização desta sub-região mas não colide com o disposto no P.R.O.T-O.V.T. Porém, esta nova identidade (artificial) é construída à custa da destruição da identidade local, estando por avaliar a prazo os custos associados. A concentração num único local de possibilidades de alojamento de elevada qualidade e de um conjunto diversificado de actividades de lazer contribui para a redução da sazonalidade da procura; para a atracção de mercados internacionais de elevado poder de compra; para a qualificação da oferta hoteleira, e para a criação de uma imagem de marca (até agora ausente) para o Oeste, mas conduz a uma situação de isolamento e independência face ao território que lhe serve de suporte, isto é, apropria-se de um recurso valioso e escasso, o solo, carecendo de avaliação que o retorno obtido em proveito da comunidade local tenha valor correspondente.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Vicente, T. G., & Pereira, M. (2010). Novos produtos turísticos e a gestão do território: a situação da região do Oeste. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 1065-1066. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12873