Paisagem cultural do alto Mondego: de núcleos industriais a parque patrimonial

  • Nuno Martins Escola Superior Artística do Porto
  • Cláudia Costa Instituto Superior de Estatística e Gestão da Informação
  • Vasco Leite Netvita, soluções de informação, Lda
Palavras-chave: Paisagem cultural, Ciclo da lã, Turismo industrial, Parque patrimonial, Roteiros turísticos, Sistemas de informação geográfica

Resumo

Objectivos | Sondar e explorar o potencial turístico de diversos núcleos industriais abandonados relacionados com os lanifícios e situados em aldeias da encosta da Serra da Estrela e no vale do Mondego, nas imediações da cidade da Guarda, inserindo-os, como um novo pólo atractivo, o do Alto Mondego, no projecto em curso do Parque Patrimonial do Mondego. Revalorizar e revitalizar a paisagem cultural associada ao ciclo da lã, da pastorícia à transumância, da manufactura à indústria dos lanifícios, através da criação de um projecto que tem no património industrial e nos valores da cultura autóctone (arquitectónicos, ligados as tradições orais, etc.) o seu eixo temático central.

Metodologia | Investigação bibliográfica e de sites da Internet. Entrevistas pessoais.Visitas de estudo e interpretação da paisagem. Desenho/projecto de roteiros. Tarefas principais:
1. Consulta bibliográfica.
2. Entrevistas a autarcas, a antigos industriais de lanifícios, a operários e pastores antigos.
3. Sinalização e levantamento fotográfico no terreno das antigas unidades industriais.
4. Identificação de unidades de paisagem usando como critérios os recursos patrimoniais ligados às tradições orais e ao ciclo da lã.
5. Arranque da construção de uma primeira etapa de um Sistema de Informação Geográfica do Parque Patrimonial do Mondego na região do Alto Mondego.
6. Desenho prévio do mapa do PPM para o Alto Mondego.

Principais resultados e contributos | A investigação, em curso, para o Alto Mondego tem como um dos seus outputs um mapa-síntese com delimitação da área de intervenção, sinalização de um conjunto de recursos patrimoniais, proposta de centros de interpretação e desenho de roteiros pedagógicos, lúdicos e turísticos que ligam aos recursos aos centros, e estes a interfaces modais e portas de entrada do parque. Temáticas a abordar no projecto ou guião de análise do território do Alto Mondego:
– Parques patrimoniais e o Parque Patrimonial do Mondego – objectivos, estratégias e acções.
– Rotas do Parque Patrimonial do Alto Mondego – temas e métodos de concepção. 
– O Património Industrial no Alto Mondego – identificação de oportunidades para a valorização patrimonial.
– Elaboração de Mapa de síntese de recursos patrimoniais e de roteiros pedagógicos e turísticos do Alto Mondego. Os resultados confirmam as hipóteses explicativas colocadas:
− A relação evolutiva entre rio, populações e paisagem cultural como chave interpretativa das transformações da paisagem do Alto Mondego.
− A persistência do rio como matriz geográfica e cultural que sintetiza a identidade do território, uma identidade calcada nas antigas actividades laborais. Esta identidade produtiva, constitui-se como o núcleo genético a partir da qual ganha forma uma alternativa ao actual território. O contributo da investigação reside, portanto, em conformar uma base cultural, ambiental, tecnológica, comunicacional, social e económica que permita relançar um território em franco declínio. A partir do estudo da história e da paisagem; o contacto com as comunidades locais e a selecção de recursos patrimoniais, de acordo com a reconstrução da narrativa histórica, seguida da proposta de parque patrimonial, assume-se o repto de combater os principais problemas que afectam o território: despovoamento, depressão social e económica, mitigação da identidade, esbatimento da memória colectiva. A análise espacial das paisagens rurais em estudo, apoiada em sistemas de informação geográfica, permite estabelecer unidades paisagísticas que respondem a critérios de presença de recursos patrimoniais diversos, tangíveis e intangíveis. O mapeamento destes recursos no quadro do território do Mondego constitui um passo obrigatório para a definição de um conjunto de centros de interpretação que correspondem, simultaneamente, a pólos do futuro Ecomuseu do Mondego, projecto em curso. Igualmente se identificam um conjunto de casas típicas devolutas ou sub-habitadas para conversão em casas de acolhimento de turistas. O sistema de informação geográfica do parque articula-se, através de dispositivos móveis, a um site com aplicações interactivas, tecnologia mobile, conexões wireless e sistema de navegação GPS, trabalho que corresponde a outra linha de desenvolvimento do projecto. O interface assim criado assegura ao visitante um apoio permanente, online, em directo em diferido, antes, durante e depois da visita.

Limitações | Prendem-se com o acesso aos locais das antigas fábricas, bastante inacessíveis, e com a dificuldade de encontrar bibliografia sobre parques patrimoniais dada a escassez de experiências similares levadas a cabo em Portugal. Acresce ainda a distância, as dificuldades de encontrar registos sobre a abertura, funcionamento e fecho das fábricas.

Conclusões | O conhecimento dos processos de transformação da paisagem cultural do Alto Mondego é o ponto de partida para o projecto de um parque patrimonial que repousa numa estratégia de desenvolvimento sustentável à escala regional. O interface de comunicação desenvolvido antecipa o enriquecimento da experiência turística. Por sua vez, o sistema de roteiros; o reforço da imagem do destino, a adaptabilidade da oferta, graças à diversidade da programação e à difusão dos serviços e do alojamento rural, contribuem, no seu conjunto, para um uso mais flexível, uma vivência mais dinâmica e mais próxima aos residentes, incrementando-se a partilha e o intercâmbio. Como veículo institucional, unificador de vontades e políticas, e sobretudo como instrumento de projecto e gestão de paisagens culturais, o parque patrimonial revela todo o seu potencial agregador de recursos e promotor de um turismo industrial assente nos pilares da sustentabilidade.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Martins, N., Costa, C., & Leite, V. (2010). Paisagem cultural do alto Mondego: de núcleos industriais a parque patrimonial. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 1047-1048. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12785