Avaliação do alinhamento competitivo dos atores do turismo

  • Angela Flecha Universidade Paulista
  • José Paulo Fusco Universidade de São Paulo
  • Américo Tristão Bernardes Universidade de São Paulo
Palavras-chave: Turismo, Redes, Alinhamento competitivo, Clusters, Indicadores

Resumo

Objectivos | Propor um sistema de avaliação para o alinhamento competitivo dos atores da rede de turismo.

Metodologia | Este trabalho tem como abordagem de pesquisa, a qualitativa e quantitativa, como estratégia de pesquisa, o estudo de caso que foi a rede de atores de turismo da cidade de Ouro Preto e como mecanismo de coleta de dados a entrevista de profundidade, semi-estruturada, junto a quatro atores de destaque na cidade. Neste ponto a abordagem qualitativa foi a mais adequada, pois não se pretendeu levantar valores numéricos para as medidas de desempenho (não foram considerados osvalores das medidas,mas somente a identificação dasvariáveis que as representam) e sim confrontar pressupostos. Reuniões com especialistas da academia ao longo de 24 meses. Questionário estruturado aplicado junto a 600 turistas em pontos de grande fluxo da cidade de Ouro Preto. Este artigo utilizou técnicas qualitativas e quantitativas, buscando trazer à tona a compreensão do máximo de variáveis possíveis para a construção de um sistema de avaliação do alinhamento competitivo dos componentes da rede de atores de Ouro Preto. Sentiu-se a necessidade de procurar, junto aos turistas, a comprovação do proposto pelos especialistas que foi feito através de questionários aplicados durante o ano de 2009. Em 2010 buscou-se informação (fonte primária) através de formulário, sobre localização (endereço), faturamento, número de funcionários para identificar o tamanho (faturamento/n.º de funcionários) de cada ator da rede. Para fechar o círculo da pesquisa, já que quatro etapas de pesquisa já haviam sido utilizadas, buscou-se mais uma comprovação dos dados obtidos junto aos 20 maiores atores da rede de turismo da cidade da cidade analisada através de questionários estruturados e entrevistas de profundidade o tipo de relacionamento que cada um tem dentro da rede e seu grau de dependência e os resultados serão apresentados a seguir.

Principais resultados e contributos | A construção da rede foi feita a partir das respostas obtidas nos questionários, quando se desenhou o perfil de duas redes distintas, a saber, a rede de indicações e a rede de fluxo de turistas. O questionário aplicado permitiu detectar o movimento dos turistas, bem como o que pode ter provocado esse movimento. Os nós da rede foram os lugares visitados pelos turistas: restaurantes, hotéis, lojas, atrativos etc; assim como fontes de informação: guias, pessoas etc. As ligações entre nós podem-se formar de duas maneiras, originando dois tipos de redes. A primeira rede, de indicações, é formada por nós que representam indicadores; as conexões são feitas entre pares de nós: o indicador e o indicado. O indicador é o agente que fez a indicação a algum ponto (nó) da rede. Indicadores podem ser estabelecimentos, guias turísticos (neste caso sendo agregados em um único nó), pessoas. O indicado é o próprio local visitado pelo turista, que pode ser um restaurante, local de hospedagem, atração turística, loja, etc.Assim, temos uma rede direcionada: cada ligação tem uma origem e um destino que não podem ser confundidos. É claro que podem se formar ligações bidirecionais: um estabelecimento a indica o b; e o inverso também ocorre: o estabelecimento “b” indica o “a”. Os resultados encontrados sugerem que a rede de Ouro Preto é uma rede unidirecional o que pode explicar e esclarecer a questão da falta de entrosamento entre os atores do turismo na cidade e portanto, uma rede frágil e difusa de Gnyawali e Madhavan (2001).  A Praça Tiradentes é o grande aglutinador, o hub de toda a cidade, onde se concentra a maior movimentação e o atrativo mais visitado que é o Museu da Inconfidência. Uma questão de fundamental importância, inclusive do ponto de vista de planejamento do setor turístico de Ouro Preto, é o papel do guia turístico local. Ele é referência para um contingente expressivo de turistas, sendo um dos nós mais mencionados da rede. Chama a atenção também o fato de um restaurante (Forno de Barro) estar entre os pontos mais mencionados uma vez que não é tão conhecido pelo nome entretanto também se localiza na praça Tiradentes. A maior parte dos hubs são atrativos turísticos, não necessariamente situados no entorno da Praça Tiradentes. A cem metros da praça Tiradentes encontra-se a Feira de Pedra Sabão e a Igreja de São Francisco de Assis. Assim, fica evidente que, o fato de estar numa posição privilegiada, a torna forçosamente como ponto de visita de muitos turistas.O que parece não serverdadeiro para oscentros de informação turística eAGTOP que não tiveram relevância quando se referiu a fonte de informação, pois a Secretaria de Turismo do município encontra-se em frente a feira de Pedra Sabão. O Centro de Informações Turísticas da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e a Associação dos Guias de Turismo de Ouro Preto (AGTOP) encontram-se na praça Tiradentes. Tal estranheza faz crer que tal “gap” deve ser em função da inexistência de sinalização turística na cidade. A segunda rede foi obtida assumindo o turista como agente das ligações. Se um dado turista visitava os nós a, b, c e d da rede, as seguintes ligações eram acrescentadas a esta rede: a-b, a-c, a-d, b-c, b-d, c-d. Quanto maior o número de nós visitados por um dado turista, maior será o peso de suas ligações na rede e maior potência (números de ligação que um nó faz vezes o peso dessas ligações) ele atribui aos nós. Isso deve ser traduzido como uma medida do fluxo nesta rede.A rede apresenta quais foram as prioridades em termos de escolhas do que visitar e onde ir feita pelos turistas/excursionistas.

Conclusões | Pôde-se compreender que a rede de turismo da cidade é muito dinâmica e densa apesar da rede de fluxo ser unidirecional o que significa dizer que não há um caminho de ida e volta de e para quem indicou. Tal descoberta pode levar a questionar se não é este o motivo que faz da rede de turismo de OP tão obscura no que tange aos relacionamentos fragmentados.Acredita-se que esta pesquisa pode incentivar ações decisivas no setor de turismo, pois apresenta em primeiro lugar um forte indicador de localização como destaque. O cálculo da conectividade de um nó é a primeira abordagem para se calcular o seu peso na rede e pode-se comprovar que a Rua direita é o nó que mais emite visitantes e o Museu da Inconfidência o que mais recebe, além de descobrir que outros dois hubs são muito fortes,como a Igreja de São Francisco (181 pessoas) e a Feira de Pedra sabão (149 pessoas chegando e 11 saindo). Tais dados possibilitaram a conclusão de que esse percurso é o principal da rede turística da cidade e que esses nós detém o maior peso da rede, e que nesse espaço geográfico há uma maior disseminação de informações. A pesquisa demonstrou ainda a semelhança do fenômeno de formação de um “pico” entre os nós mais conectados. No presente estudo pode-se sugerir que tal rede é aleatória, isso, devido a sua distribuição de conectividade, e a rede de indicação se comporta como uma rede livre de escala, também devido a sua distribuição de conectividade. Os dados aqui obtidos podem contribuir de maneira efetiva para a gestão da cidade, apontando locais de maior fluxo turístico e sua rede de indicação, propiciando aos gestores maiores informações quanto ao planejamento do turismo na cidade. Adotando uma sinalização mais eficiente indicando locais para osvisitantes obterem mais informações e democratizar mais a visitação a outros muitos pontos turísticos.Além da sinalização criar um transporte turístico que promova a visitação a os inúmeros apelos e atrativos turtísticos da cidade e pode-se adotar métodos que gerem manutenção do sistema, fortalecendo e potencializando suas relações. Notou-se também com o presente estudo, que as interações da rede de turismo de Ouro Preto são geradas exclusivamente pelo turista, sem qualquer indício de cooperação e/ou interações entre os nós – unidirecional e não bidirecional. A cooperação entre os nós poderia otimizar o sistema, como exemplo possivelmente uma interligação entre os museus, pois influenciaria diretamente na rede de indicação (sub-redes de museus), e, por conseguinte na rede de fluxo como demonstrado nos resultados desta pesquisa. Uma ação para promover a cooperação seria promover mais ações que proporcionassem o encontros destes atores e assim pudessem interagir além de escolherem um dos atores para estimular a troca de informações (animador). Observou-se, ainda a utilização recorrente de algumas palavras tais como:confiabilidade, qualidade e satisfação do cliente entretanto, poucos dos respondentes sabem sobre estes temas comprometendo o significado e resultado final. Chamou a atenção a ausência de dados e informações concretas e reais por parte dos atores. Um ponto que surpreendeu foi o fato das decisões de muitos atores serem tomadas com base na experiência e intuição. Os atores mais conectados tem acordo com os guias (pagam comissão) e fica demonstrado o grau de dependência que estes atores tem deste ator (AGTOP). Quanto aos indicadores propostos, acredita-se serem de extrema importância para o setor do turismo em Ouro Preto, desde que eles sejam devidamente definidos e esclarecidos. Isto não significa que o indicador para um segmento de empresas como os restaurantes poderão ser os mesmos utilizados pelos hotéis e pelas agências. Porém observou-se que uma informação foi comum nos três segmentos de empresas: satisfação do cliente. Outro ponto interessante nestes dados foi que a localização é um ponto muito importante para a maioria das empresas do setor chegando a ser mencionado como “indispensável”.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Flecha, A., Fusco, J. P., & Bernardes, A. T. (2010). Avaliação do alinhamento competitivo dos atores do turismo. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 987-988. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12663