Como inovar no sector do turismo?: o caso do ecoturismo em Cabo Verde

  • Margarida Clemente Universidade de Aveiro
  • Américo Lopes Universidade de Aveiro
  • Ana Mota Universidade de Aveiro
  • Carlos Costa Universidade de Aveiro
Palavras-chave: Inovação, Ecoturismo, Ilhas, Cabo Verde

Resumo

Objectivos | O projecto de investigação tem como objectivo global o estudo do desenvolvimento da inovação no sector do turismo, especificamente, ao nível do produto ecoturismo e da sua aplicação ao território insular de Cabo Verde. Operacionalmente, pretende-se propor um conjunto de linhas orientadoras para a inovação no ecoturismo e apresentar medidas concretas da sua implementação no território em estudo.

Metodologia | Em termos metodológicos, o projecto tem por base a revisão da literatura relacionada com os conceitos de inovação de um modo global, de inovação em turismo, especificamente, e de ecoturismo. Recorreu-se ainda ao método qualitativo de recolha de dados, nomeadamente, através da análise de seis case studies, onde foram identificadas boas práticas de inovação em ecoturismo (de base comunitária), redes, informação, planeamento e sustentabilidade:Lisu Lodge, Tailândia; Il Ngwesi Tourism Lodge, Quénia; Rede Europeia de Turismo de Aldeia; Programa Innovation for Sustainable Tourism & Services South Aegean, Grécia; Projecto tecnológico Peer-to-Peer, Ilhas Baleares, Plano de Turismo Sustentável para as Ilhas Abrolhos, Austrália.

Principais resultados e contributos | A proposta de linhas orientadoras foi concebida tendo em mente territórios com características proeminentemente insulares e que, portanto, exibem uma série de condicionantes (tamanho reduzido, recursos limitados, dispersão geográfica e isolamento) e oportunidades (albergam uma importante porção da biodiversidade do planeta e são, em inúmeros casos, o berço de uma grande variedade de culturas ainda pouco alteradas) que necessitam ser reguladas e potencializadas, respectivamente. A metodologia utilizada para a elaboração das linhas orientadoras tem, na sua base, modelos, abordagens e conceitos, de diversos autores nacionais e internacionais, que permitem pensar no desenvolvimento do turismo de forma inovadora e transversal. Assim, a proposta apresentada divide-se em duas grandes perspectivas, o lado da oferta e o lado da procura. Cada uma é composta por domínios, dentro dos quais se definiram estratégias para a inovação em ecoturismo. Deste modo, o lado da oferta é composto pelo papel do governo, governância, população residente, equipamentos e infra-estruturas, produto e gestão de visitantes, sendo que o domínio que compõe a perspectiva da procura é o marketing. Várias estratégias foram delineadas para cada domínio, assim como definidas acções orientadoras para cada estratégia. Pretende-se, com esta abordagem articulada e global, proporcionar uma linha de pensamento e actuação que perspective não só o planeamento integrado de destinos turísticos insulares, rumo ao desenvolvimento socioeconómico das comunidades residentes, mas também um esquema realista, fácil de interpretar e de aplicar. A escolha de Cabo Verde prende-se com o facto de ser um território com grande potencial para o ecoturismo em que o estado de desenvolvimento deste produto se encontra numa fase embrionária e, como tal, propícia à implementação de estratégias que visem evitar alguns erros de planeamento num sector tão vulnerável. Assim, e de forma sucinta, sugerese ao nível
i) do papel do governo, a criação de legislação que obrigue os empreendimentos turísticos de determinada dimensão a possuírem os seus próprios sistemas de recolha e selecção dos resíduos, bem como o tratamento dos efluentes domésticos;
ii) da governância, a criação de medidas de incentivo ao associativismo e cooperativismo;
iii) da população residente, o empowerment para a tomada de decisão e o empreendedorismo;
iv) dos equipamentos e infra-estruturas, o alargamento da rede de wireless a todos os locais das ilhas;
v) do produto, o desenvolvimento de programas com base nos produtos-âncora das ilhas em modelo all inclusive ou à medida;
vi) da gestão de visitantes, a disponibilização de informação digital e actualizada para GPS e PDA;
vii) do marketing, a elaboração de estudos de demarketing geral, desincentivando a procura a áreas de maior sensibilidade ecológica.

Limitações | A principal limitação encontrada para a realização desta investigação prende-se com a dificuldade em encontrar mais case studies reveladores de inovação em ecoturismo, pelo que se optou pelo estudo de casos de inovação em turismo tendo por base os princípios da sustentabilidade.

Conclusões | O caso de Cabo Verde, que poderá vir a ser um destino de excelência ao nível do ecoturismo, deverá pautar-se por um processo de desenvolvimento com benefícios visíveis para a população local, elemento activo e integrante de todo o processo. Neste sentido, o Estado assume um papel importante na regulamentação das diversas actividades, bem como na disponibilização de financiamento e na promoção do destino, com estratégias de marketing direccionadas e planeadas de acordo com os segmentos mais interessantes. É necessário inovar nos processos de formação e comercialização de produtos visando,sobretudo, a qualificação da experiência do turista, proporcionando a sua máxima satisfação e consequente fidelização e/ou promoção positiva do destino, através do passa-palavra. Para além desses aspectos, dever-se-á desenvolver mecanismos de coordenação dos diferentes stakeholders, dotar as áreas turísticas de equipamentos e infra-estruturas de qualidade, criar sinergias entre as potencialidades dos diferentes produtos turísticos, e assegurar a correcta gestão de visitantes com base no equilíbrio entre três importantes pilares de desenvolvimento de destinos turísticos: a comunidade local, a área-destino e o turista.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Clemente, M., Lopes, A., Mota, A., & Costa, C. (2010). Como inovar no sector do turismo?: o caso do ecoturismo em Cabo Verde. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 979-980. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12655