Turismo e terceiro sector (nas artes e na cultura): organização, gestão e planeamento no caso do Algarve

  • Paula Martins de Brito Universidade do Algarve
  • Ana Maria Ferreira Universidade de Aveiro
  • Carlos Costa Universidade de Aveiro
Palavras-chave: Turismo, Artes e cultura, Terceiro sector

Resumo

Objectivos |
Objectivo geral – Conhecer o papel do Terceiro Sector nas artes e na cultura (TSAC) no processo de planeamento e gestão integrada de um destino turístico.
Objectivos específicos –
i) caracterizar o TSAC (contexto de criação, missão, áreas de intervenção, perfil dos seus líderes, perfil dos associados, estrutura de recursos humanos, estratégia de comunicação, fontes de financiamento e práticas de gestão ao nível do destino turístico);
ii) identificar oportunidades decorrentes da interacção TSAC/Sector Turístico;
iii) diagnosticar barreiras existentes;
iv) clarificar o papel destas organizações na sua relação com o Turismo (frequência e tipo de contactos estabelecidos com organizações ligadas ao sector turístico, envolvimento nos processos de decisão sobre planeamento turístico, predisposição para uma participação mais activa);
v) compreender os principais desafios que se colocam às organizações do TSAC e respectivas formas de adaptação;
vi) desenvolver um conjunto de propostas de colaboração entre o TSAC e os Agentes Turísticos com vista à qualificação e diferenciação da oferta turística no destino.

Metodologia | Como referência teórica de base foram entendidas as publicações científicas nas áreas da Gestão e dos Estudos Turísticos. De modo a colmatar as insuficiências ao nível da teoria, optou-se, numa primeira fase, por uma abordagem de natureza qualitativa, recorrendo-se à realização de entrevistas semi-estruturadas a líderes das organizações do TSAC e a informantes com experiência operacional no domínio da interacção Terceiro Sector – Sector Turístico, como forma de melhor conhecer a realidade e perceber sensibilidades relativamente à temática em análise. Foi utilizada a técnica de “snowball sampling”. Paralelamente, realizar-se-ão entrevistas semi-estruturadas a stakeholders do sector turístico. A segunda fase da investigação assentará na aplicação de um questionário ao universo das organizações do terceiro sector, delimitando esta análise ao destino turístico (abordagem quantitativa).

Principais resultados e contributos | Os resultados obtidos na primeira fase da investigação permitiram concluir que o Turismo se encontra presente nos objectivos das organizações do TSAC,constituindo uma das suas áreas de intervenção. A pesquisa exploratória permitiu também identificar as potenciais dimensões do papel desempenhado pelo TSAC na sua interface com o Turismo. Constatou-se um reconhecimento consensual, por parte destes líderes, relativamente à importância do Turismo como instrumento de desenvolvimento regional, bem como uma predisposição para uma participação mais activa no processo de planeamento. No entanto,verificou-se que estas organizações não conseguiram ainda ver o seu know-how incorporado na definição de políticas/estratégias para o Turismo. Foi possível observar um reconhecimento generalizado quanto à importância da diversificação da oferta turística regional, tendo a este nível o Terceiro Sector vindo a assumir um apoio pró-activo à estruturação de novas propostas. A investigação exploratória permitiu notar ainda evidências da ausência de uma “cultura de diálogo” entre o TSAC e o Sector Turístico e, porconsequência, um desconhecimento no que respeita ao trabalho desenvolvido por estas organizações em prol do Turismo. De igual modo, foi possível constatar algum desconhecimento, por parte do TSAC, no que respeita às especificidades do sistema turístico (competências, níveis de decisão, estratégias de promoção do destino turístico). Os desafios futuros das organizações do TSAC encontram-se centrados em torno da sua sobrevivência financeira, da necessidade de diversificar as suas fontes de financiamento, da necessidade de clarificar o seu papel junto dos sectores público e privado (turístico) e em conseguir comunicar o valor do seu trabalho a estes agentes. A abordagem que se propõe, centrada nas organizações do TSAC como agente potenciador de novas práticas no planeamento e gestão de destinos, poderá valorizar o Turismo como área de conhecimento, criar “âncoras” de conhecimento territorial,contribuir para uma melhor comunicação e, por consequência, para o desenvolvimento de novas oportunidades de colaboração.

Limitações | A presente investigação apresenta como principal limitação a necessidade de ser devidamente adaptada às circunstâncias particulares de outros destinos turísticos onde venha a ser replicada, uma vez que o carácter distintivo dos lugares turísticos resulta das suas características únicas.

Conclusões | O Turismo apresenta novas tendências no âmbito da oferta turística, nomeadamente o surgimento de novos destinos turísticos e consequente aumento da concorrência, o interesse pelo desenvolvimento de “produtos sustentáveis” e a aposta estratégica de muitas regiões na estruturação de produtos turísticos baseados no património histórico e cultural, de modo a conseguir uma diferenciação da sua imagem. É também possível identificar um conjunto de tendências que parecem estruturar as práticas turísticas: o interesse pela descoberta de novos lugares e ambientes, uma maior consciência ambiental e interesse por actividades culturais e o aumento da frequência de férias ao longo do ano. O turista de hoje é mais independente, informado, flexível e experiente. Estas tendências representam novos desafios para os destinos, revelando-se pertinente conceber produtos que reflictam o carácter próprio e único das regiões, como factor de diferenciação. O Terceiro Sector encontra-se estrategicamente posicionado para dar resposta a estes desafios. Regista-se na literatura uma certa convergência quanto às suas virtualidades na sociedade do séc. XXI:
i) tende a possuir um conhecimento profundo sobre as especificidades/necessidades dos territórios;
ii) actua como instrumento de desenvolvimento regional e como plataforma para a inovação.
No entanto, é comum ser-lhe reconhecido um conjunto de deficiências, de entre as quais sobressaem: o amadorismo da gestão e a dependência financeira face ao Estado. Os autores de referência no campo do planeamento turístico têm vindo a reconhecer a importância do Terceiro Sector neste processo, sem que clarifiquem o seu papel ou procurem descrever o valor acrescentado da sua participação. Reside neste aspecto um dos contributos essenciais que se procurará dar para o conhecimento aplicado a estes domínios. A abrangência do tema, que representa um verdadeiro campo de inovação social e de investigação, tem merecido um tratamento científico em diferentes áreas disciplinares (Gestão, Economia, Sociologia). Na área de conhecimento do Turismo esta ligação não foi ainda estabelecida, quer em termos conceptuais, quer em termos de investigação aplicada, a nível nacional.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Brito, P. M. de, Ferreira, A. M., & Costa, C. (2010). Turismo e terceiro sector (nas artes e na cultura): organização, gestão e planeamento no caso do Algarve. Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 975-976. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12649