Mosaico da sustentabilidade em destinos turísticos: cooperação e conflito de micro e pequenas empresas no roteiro integrado Jericoacoara – Delta do Parnaíba – Lençóis Maranhenses (Brasil)

  • Helena Araújo Costa Universidade de Brasília
Palavras-chave: Cooperação, Conflito, Micro e pequenas empresas (MPE), Sustentabilidade, Turismo

Resumo

Objectivos | O trabalho trata de relações sociais que envolvem micro e pequenas empresas (MPE) no roteiro turístico integrado que perpassa Jericoacoara (Ceará), o Delta do Parnaíba (Piauí) e os Lençóis Maranhenses (Maranhão), também chamado Costa Norte. O objetivo geral é analisar as relações sociais de cooperação e conflito que envolvem MPE do turismo e que produzem condições favoráveis à sustentabilidade dos destinos da Costa Norte, bem como os fatores condicionantes que atuam sobre essas relações.
Os objetivos específicos são quatro:
(1) caracterizar o sistema de turismo da Costa Norte em seus aspectos ambientais, sociais, econômicos e os impactos do turismo sobre a região;
(2) identificar e descrever os atores sociais relevantes da cadeia do turismo na Costa Norte, em particular as micro e pequenas empresas (MPE);
(3) analisar os aspectos de cooperação e conflito das relações sociais das MPE do turismo, assim como as razões de sua ocorrência e os seus resultados sobre a sustentabilidade do turismo nos destinos;
(4) investigar as especificidades e os condicionantes das relações sociais das MPE, por meio da comparação entre os três principais destinos turísticos da Costa Norte: Jericoacoara, Parnaíba e Barreirinhas.

Metodologia | A pesquisa compõe-se de três etapas metodológicas. A primeira, de cunho exploratório, emprega observações, análise de dados secundários e entrevistas não-estruturadas.A segunda etapa, qualitativa, foi composta por observação direta do local e entrevistas semiestruturadas em 11 dos 12 municípios envolvidos com o roteiro integrado, além das capitais dos estados. A saturação foi empregada como critério para estipular a amostragem nesta primeira etapa, que totalizou 53 entrevistados. Na terceira etapa, houve uma pesquisa quantitativa (survey) com MPE empresas do turismo de Barreirinhas, Parnaíba e Jericoacoara, os destinos turísticos principais da Costa Norte. No total, 213 empresas responderam ao questionário, gerando um índice de resposta de 90,6%, já que o universo era de 235 elementos. As aplicação dos questionários foi realizada entre setembro e novembro de 2008 e teve como público-alvo proprietários/sócios e gerentes de estabelecimentos com atividade principal de hospedagem, alimentação, transporte turístico, pacotes receptivos (passeios e guias) ou uma combinação entre estas atividades, além de diretores de associações ligadas a essas empresas. A análise dos dados do survey foi feita com técnicas estatísticas uni, bi e multivariadas; além de técnicas de análise de redes sociais.

Principais resultados e contributos | A comparação entre características das MPE nos três destinos turísticos mostra diferenças significativas em relação a: importância relativa do turismo para a localidade; perfil da demanda; estrutura produtiva: porte, idade e atividade principal das empresas; sazonalidade; flutuação média de empregados; origem dos proprietários e relação com o local. Para reconhecer uma orientação a favor ou contra a sustentabilidade, foram utilizados parâmetros coletados a partir de certificações de destinos sustentáveis. Cinco pontos foram cruciais: o respeito às leis ambientais, particularmente em relação às unidades de conservação utilizadas para o turismo; o aumento do lucro empresarial; a ampliação das oportunidades de trabalho para os moradores; o incremento do diálogo entre atores sociais vinculados ao turismo; a melhoria da infraestrutura local. Os resultados apontam ações de cooperação mais elaboradas e sistemáticas das MPE como aquelas que mais favorecem a sustentabilidade do destino, a exemplo de participação em conselhos municipais, a promoção de treinamentos em conjunto e a educação ambiental do turista, todas mais expressivas em Barreirinhas. Outras ações, como compras conjuntas, montagem de pacotes em grupo e cuidados partilhados com a unidade de conservação refletem no aumento do lucro individual da MPE. Por outro lado, a indicação de outras empresas não tem impactos sobre os resultados averiguados. Poucos percebem resultados positivos dos conflitos, tais como melhoria das relações, da cidade e valorização da comunidade. Uma pequena parcela entende que os conflitos contribuíram para a formação e o fortalecimento de grupos. Todavia, observações complementares reforçam a noção de que conflitos foram condicionantes da cooperação, que surge como tentativa de lidar com as divergências. Entre os fatores que aparentam influenciar as relações analisadas estão: o momento do ciclo de vida do destino e a consequente importância do turismo para a dinâmica da economia local; maior ou menor dependência dos recursos naturais da unidade de conservação para o turismo; polaridade dos conflitos locais empreendidos pelas MPE; relevância da roteirização para o sucesso comercial do destino; permeabilidade do governo local para as demandas do setor turístico; (falta de) regulação das atividades do turismo; existência de esferas de diálogo entre atores sociais locais; sazonalidade do destino, entre outros.

Limitações | As limitações do estudo dizem respeito à necessidade de técnicas complementares para pesquisar empiricamente o conflito, um tema com marcante desaprovação social. Outro ponto que merece aprofundamento, e que esta pesquisa apenas tangenciou, são os possíveis efeitos perversos de alguns tipos de cooperação. O aspecto que mais chama atenção para desenvolvimento futuro de estudos sobre as relações que envolvem as MPE diz respeito a analisar, mais a fundo e a partir de um número maior de destinos turísticos, a relação entre o momento do ciclo de vida e as articulações de cooperação e conflito ao redor do turismo.

Conclusões | As conclusões principais desta pesquisa podem ser organizadas em torno de três temas:
(1) as características principais dos destinos e de seus sistemas relacionais;
(2) as conexões entre cooperação e conflito no universo das MPE do turismo;
(3) os resultados das relações sociais sobre a sustentabilidade dos destinos turísticos.
A comparação dos sistemas relacionais dos três destinos investigados revela alguns fatores que auxiliam a compreensão de suas diferenças, entre os quais destacam-se o momento do ciclo de vida do destino turístico, a polaridade dos conflitos e a dependência dos recursos naturais da área protegida para o turismo. Conclui-se também que a falta de conflitos não é condição suficiente ou necessária para a cooperação emergir e que nem toda cooperação ou conflito das MPE favorece automaticamente a sustentabilidade. Alguns desdobramentos de ambas as relações são capazes de contribuir positivamente para a sustentabilidade do destino turístico.

Publicado
2010-01-01
Como Citar
Costa, H. A. (2010). Mosaico da sustentabilidade em destinos turísticos: cooperação e conflito de micro e pequenas empresas no roteiro integrado Jericoacoara – Delta do Parnaíba – Lençóis Maranhenses (Brasil). Revista Turismo & Desenvolvimento, 3(13/14), 949-950. https://doi.org/10.34624/rtd.v3i13/14.12587