Turismo, ‘autenticidade’ e reprodução serial da cultura
Resumo
Este artigo ensaia a problematização do controlo turístico da cultura. Nele, interroga-se a ‘autenticidade’, incorporando na sua agenda os efeitos performativos do turismo. Entendido o turismo pelo que Appadurai (1990) designa de ethnoscape, significando com isso a requisição da cultura como esfera transacionável para a sua operatividade, nele ganham centralidade antinomias analíticas deduzidas do seu papel estrutural no património cultural. Daí, uma tensão entre trivialização e desqualificação culturais, marcada por uma hipostatização da cultura, e a sua revitalização e desenvolvimento, inscritos em políticas de afirmação identitária. Se estas categorias fazem sentido, o debate não fica imune à apropriação da cultura pelo aceleracionismo tecnológico, perpetrador da sua reprodução em série. Sem que se subtraia o turismo à teologia negativa que acompanha a ‘autenticidade’, sugere-se uma interlocução mais estruturada com o seu modo de apropriação pela intermediação turística, tendo como primado a ideia de que ela reflete uma clássica abcessão de realismo, acentuada com a diluição contemporânea do monopólio da cultura.