Análise contrastiva das expressões binominais em corpora anotados portugueses e franceses

  • Fernando Martinho Universidade de Aveiro. Centro de Línguas, Literaturas e Culturas (CLLC)
Palavras-chave: Sintaxe, Léxico, Modificadores, Adjetivos, Compostos, Semântica intensional

Resumo

Os adjetivos são modificadores atributivos e integram o sintagma nominal (SN) como adjuntos do núcleo N, compartilhando com este, nas línguas Românicas, as suas características flexionais. Alguns modelos de composição, no entanto, admitem um SN com dois nomes adjacentes, numa configuração que aparenta também ser de modificação. Partindo de propostas anteriores (Noailly 1990, Villalva 2003, Dressler 2006), a nossa análise implica que as sequências endocêntricas N1N2 em português e francês são, na verdade, estruturas modificadas, onde N2 corresponde a um “nome atributivo” (Martinho 2007, 2013). De fato, se uma sequência aleatória como * “voiture âge” é claramente inaceitável, expressões atestadas como “uma criança modelo” ou “une voiture bélier” parecem, pelo contrário, bastante claras sobre a natureza modificadora de “modelo” e “bélier”,respetivamente, levantando contudo questões sobre a categoria, morfologia, sintaxe e semântica de tal modificador. Nestas “construções binominais modificadas” N1N2, frequentemente confundidas como compostos lexicais ou morfossintáticos, consideraremos, com base num estudo contrastivo das concordâncias extraídas dos corpora CETEM e FrWAC, que N2 parece partilhar tanto em português como em francês a sintaxe e a morfologia de uma categoria adjetival. Além disso, uma vez que N2 verifica propriedades alegóricas, mas carece de propriedades extensionais (Carnap, 1947), concluímos que, neste tipo de relação de modificação estereotípica, transversal a todas as línguas Românicas (Fabre 1996), os modificadores N2 de facto correspondem a adjetivos intensionais com interpretação relacional ou quantificada.

Referências

BARBAUD, P. (1971). L’ambiguïté structurale du composé binominal. Cahiers de Linguistique, 1, 71-88.

BISETTO, A. e SCALISE S. (2005). The classification of compounds. Lingue e Linguaggio, IV (2), 319-32. BOOIJ, G. (2005). The Grammar of words. An Introduction to linguistic morpho logy. Oxford University Press.

BREKLE, H. (1984). Ad hoc compounds in contemporary German: Pragmato-Semantic reflections. DRLAV, 31, 97-106.

CARNAP, R. (1947). Meaning and Necessity. A Study in Semantics and Modal Logic. The University of Chicago Press.

COMRIE, B. (2003). On Explaining Language Universals. In M. Tomasello. (ed.), The New Psychology of Language (vol. II, pp. 195-209). Mahwah, N.J: Lawrence Erlbaum Associates.

DRESSLER, W. (2006). Compound types. In G. Libben and G. Jarema (eds.), The Representation and Processing of Compound Words (pp. 23-41). Oxford: Oxford University Press.

FABRE, C. (1996). Interprétation automatique des séquences binominales en anglais et en français. Application à la recherche d’informations. [Doctoral dissertation, Université de Rennes].

FREGE, G. (1892). Sense and Reference. The Philosophical Review, 57(3), 209­‑230.

GREVISSE, M. & GOOSSE, A. (1961). Le Bon Usage. Editions Duculot.

GUEVARRA, E. & SCALISE, S. (2009). Searching for Universals in Compounding. In S. Scalise, E. Magni & A. Bisetto (eds.), Universals of Language Today (pp. 101-128). Amsterdam: Springer.

JAREMA, G. (2006). Compound Representation and Processing: A cross-language perspective. In G. Libben & G. Jarema (eds.), The Representation and Processing of Compound Words (pp. 45-69). Oxford: Oxford University Press.

LIBBEN, G. (2006). Why study compound processing? An overview of the issues. In G. Libben e G. Jarema (eds.), The Representation and Processing of Compound Words (pp. 1-21). Oxford: Oxford University Press.

LIBBEN, G. & JAREMA, G. (2006). The Representation and Processing of Compound Words. Oxford University Press. LINGUATECA (2008). CETEMPublico. url: http://www.linguateca.pt/cetempublico/

MARTINHO, F. (2007). Sintaxe e semântica dos adjetivos graduáveis em português. [Tese de doutoramento, Universidade de Aveiro].

MARTINHO, F (2013). Noms épithètes dans les expressions binominales. LINGUÍSTICA, Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto, vol 8, 39-67.

MARTINHO, F. (2019). The internal syntax of adjectival quantification in romance, LINGUÍSTICA, Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto. Vol. 14, 69-98.

MONTERMINI, F. (2008). La Composition en italien dans un cadre de morphologie lexématique. Artois Presses Université, 161-187.

NOAILLY, M. (1990). Le substantif épithète. PUF.

PAIVA RAPOSO, E., BACELAR DO NASCIMENTO, M.F., MOTA, M.A.C., SEGURA, L. e MENDES, A. (2013). Gramática do Português (vol. I), Fundação Calouste Gulbenkian.

RIO TORTO, G.M. (1998). Morfologia Derivacional. Teoria e Aplicação ao português. Porto Editora. RIO TORTO, G.M. (2013). Nouns in apposition: Portuguese data. LINGUÍSTICA, Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto. Vol. 8, 17-38.

ROHRER, C. (1967). Die Wortzusamnesetzung in modernen franzosisch [Doctoral dissertation, Universität Tubingen].

VELOSO, J. & MARTINS, A.M. (2011), Etimologia não é morfologia: produtividade e composicionalidade na formação e processamento dos “compostos morfológicos” do português. In Atas do XXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (pp. 558-573. Porto: ENAPEL

VILLALVA, A. (2003). Formação de palavras: composição, In M. H. Mateus, A. M. Brito, I. Duarte, S. Frota, G. Matos, F. Oliveira, M. Vigário e A. Villalva. (2003). Gramática da Língua Portuguesa (pp. 969-983). Lisboa: Caminho.

VILLALVA, A. (2008). Morfologia do Português. Universidade Aberta.

VILLOING, F. (2012). French compounds. Probus, 24 (1), 29-60.

UNIVERSITÁ DI BOLOGNA. (2008). The CoLiTec corpora. FrWac Small. url: https://bellatrix.sslmit.unibo.it/noske/public/#dashboard?corpname=frwac1

Publicado
2024-02-22