Creating music in childhood
Ideas and practices from 20th century music education
Resumo
Enquadramento teórico ou contexto
Este trabalho deriva de estudos desenvolvidos ao longo da última década e constitui a nossa investigação de pós-doutoramento desde 2021. Investiga ideias e práticas de inovação pedagógica na educação musical durante o século XX. Neste contexto, são abordados alguns aspectos, como a criação musical na infância, sobre a qual nos debruçamos aqui. Juntamente com a área da Educação musical e as suas conexões com outros campos como a Psicologia e a Filosofia (Beineke, 2009; Cunha, 2021; Brito, 2007), dialogamos com os Estudos da infância (Sarmento, 2007; Corsaro, 2011) e a História da educação (Cremin, 1961; Jacquet-Francillon, 2004).
Objectivos
Pretendemos discutir imagens da infância (Sarmento, 2007) e examinar como estas se desenvolveram na educação musical durante o século XX. Mais especificamente, as ideias e práticas abordadas estão relacionadas com a criação musical na infância. Este exame inclui também considerações sobre estética e pedagogia. Ao fazê-lo, podemos igualmente reconhecer as imagens da infância que guiam e justificam a abordagem dos adultos às crianças na educação musical contemporânea, uma vez que algumas destas concepções permanecem hoje em dia, ainda que tacitamente.
Metodologia
A fim de investigar as ideias e práticas de criação musical com crianças em espaços pedagógicos inovadores, trabalhamos com fontes documentais, tais como revistas pedagógicas, folhetos escolares, fotografias, textos de imprensa em geral, partituras e registos sonoros. As fases de pesquisa e análise de documentos decorrem mais frequentemente num ambiente digital desde o início da investigação e foram essenciais para o trabalho devido a restrições referentes à pandemia. Por isso, considerámos as actuais discussões sobre a metodologia da história digital (Lucchesi, 2014; Brasil; Nascimento, 2020). Mesmo que fizéssemos parte do trabalho em ambiente digital, visitar arquivos e o processo de análise de documentos físicos foram igualmente fundamentais (Farge, 2017).
Resultados
Os resultados apresentados são as análises de ideias e práticas observadas nas obras de (i) Satis Coleman, no seu Creative Music Studio e na Lincoln School of Teachers College, Universidade de Columbia (NYC, EUA), nas décadas de 1920 e 1930; (ii) Donald Pond, nas suas experiências na Pillsbury Foundation School (Santa Barbara, Califórnia, EUA) entre 1938 e 1945; e (iii) um grupo de professores de música no contexto do Movimento Escola Moderna francês (também conhecido como Pedagogia Freinet) na década de 1970, que denominavam o sua trabalho Musique Libre. Nestas obras, podemos identificar ligações entre a educação musical e as teorias evolutivas, tanto em musicologia como em psicologia; inspiração rousseauiana; entre outras.
Conclusões/ Considerações finais
As concepções de infância e de música e as suas relações com as práticas criativas observadas em tais exemplos são uma espécie de retrato de experiências na educação musical no século XX. Orientaram e justificaram as acções dos adultos em relação às crianças e foram os fundamentos dos programas e métodos de educação musical. No entanto, estas ideias não foram ultrapassadas. O exame destas concepções permite-nos compreender e reflectir sobre o que constitui hoje as bases de nosso trabalho. Este tipo de consciência é fundamental para os professores que pretendem promover a participação das crianças e o seu desenvolvimento musical através de práticas criativas de uma forma crítica.
Referências
Brasil, E.; Nascimento, L. (2020). História digital: Reflexões a partir da Hemeroteca Digital Brasileira e do uso de CAQDAS na reelaboração da pesquisa histórica. Estudos históricos, 33 (69), 196-219. http://dx.doi.org/10.1590/S2178-14942020000100011
Brito, M.T. (2007) Por uma educação musical do pensamento: novas estratégias de comunicação. [Unpublished Doctoral dissertation]. Pontifical Catholic University of São Paulo, Brazil.
Corsaro, W.A. (2011). Sociologia da Infância. (2nd ed.). Artmed.
Cunha, S.M. (2021). Crianças pequenas e arte: expresses e significações. Em aberto, 34(110), 75-84. https://doi.org/10.24109/emaberto.v34i110.4587
Farge, A. (2017). O sabor do arquivo. São Paulo University Edition.
Jacquet-Francillon, F. (2004). L’Enfant comme personne: Un fondement culturelle de l’Éducation Nouvelle. In Ohayon, A.; Ottavi, D.; Savoye, A. (Eds.). L’Éducation nouvelle. Histoire, présence, devenir (pp. 29-45). Peter Lang.
Lucchesi, A. (2014). Por um debate sobre História e Historiografia Digital. Boletim Historiar, 2, 45-57.
Sarmento, M.J. Visibilidade social e estudo da infância In Vasconcelos, V.M.R.; Sarmento, M.J. (Eds.), Infância (in)visível (pp. 25-49). Junqueira e Marin.
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