Regras fonológicas e aquisição de consoantes em francês língua estrangeira
Resumo
Com este trabalho pretendemos abordar alguns aspectos da aquisição da fonologia no ensino do Francês Língua Estrangeira (FLE). Na primeira parte, procuraremos relembrar algumas características do modelo interferencial/estrutural: tomando como exemplo os casos de reajustamento realizados em contexto pelos discentes na aprendizagem das vogais anteriores labiais, levantaremos a questão da eficácia descritiva da teoria contrastiva e do sistema de interferências que lhe está associado, concluindo provisoriamente que a fonologia da interlíngua sugere uma revisão dos seus pressupostos. Na segunda parte, veremos que num modelo gramatical em que a interface entre os módulos conceptual e articulatório da linguagem humana permite ao falante, com base num sistema de sons organizado a nível abstracto, apagar, inserir ou deslocar segmentos, a fonologia possibilita a formulação de alternativas metodológicas para o conceito de interlíngua. Na terceira parte, procederemos ao estudo da pronúncia das consoantes e das suas combinações —em ataque ou coda, isoladas ou agrupadas, homossilábicas ou dissilábicas—, identificando em consequência na interlíngua regras fonológicas derivadas da Sonority Hierarchy e da Morpheme Structure Condition. Face às características da gramática do locutor de FLE, que revela a manipulação sistemática de traços universais na reestruturação da sua língua interna, concluiremos que uma interlíngua deve ser considerada, independentemente dos seus pressupostos contrastivos e apesar da sua efemeridade, como um sistema linguístico pleno, isto é, a interlíngua é uma língua.
Referências
ANDRADE PARDAL, E, Aspects de la Phonologie (générative) du Portugais, Publicações do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.
BARROSO, H. (1999), Forma e Substância da Expressão da Língua Portuguesa, Almedina, Coimbra
BLANCHE-BENVÉNISTE C., JEANJEAN C. (1986), Le français parlé, transcription et édition, Institut National de la Langue Française (CNRS)
CALLAMAND. M. (1981), Méthodologie de l'enseignement de la prononciation, Paris, Clé International
CHOMSKY & HALLE (1968)), The Sound Pattern of English, Harper & Row, New York
CHOMSKY, N. (1986), Knowledge of language: Its nature, origin, and use, New York: Praeger. Trad. Port: série LINGUÍSTICA, Editora Caminho.
CHOMSKY, N. (1995), The Minimalist Program, MIT Press, Cambridge, MA.
CICHOCKI, W, HOUSE, A.B, LISTER, A.C (1997), “Cantonese Speakers and the Acquisition of French Nasal vowels”, in Revue Parole, nº1, pp.1-15, Paris.
CLERC, M.(1999), “La compréhension de l’oral en langue voisine. Espagnol pour francophones: analyse d’erreurs et conséquences méthodologiques”, in Les Langues Modernes, nº2, pp.48-58, Paris.
COMPANYS E.(1966), Phonétique française pour hispanophones, Paris, Hachette-Larousse (BELC)
ECKMAN, F. (1977). “Markedness and the Contrastive Analysis Hypothesis.”, in Language Learning, nº 27
HALLE, M., & CLEMENTS, G., Problem Book in Phonology, MIT Press, Cambridge, MA, 1983.
KAHN, D. 1976. Syllable-based generalizations in English phonology. Doctoral dissertation, MIT, Cambridge, Mass. Published by Garland Press, New York 1980.
KATAMBA, F. (1989) An Introduction to Phonology. Harlow: Longman.
KIPARSKY, P. (1982). From Cyclic Phonology to Lexical Phonology. The structure of phonological representations I, edited by Harry van der Hulst & Norval Smith, 131-175. Dordrecht: Foris.
KRISTEVA, J (1981). Le Langage, cet Inconnu, Le Seuil, Paris
LÉON P.(1966), Prononciation du français standard, Paris, Didier
LÉON P.(1980), Introduction à la phonétique corrective, Paris, Hachette-Larousse (BELC)
MARTINET J.(1974), De la théorie linguistique à l'enseignement de la langue, Paris, PUF
MARTINHO, F, (1993), “Orthoépie et interferente en Français Langue Étrangère. Analyse comparée des systèmes phoniques français et portugais”, ms, Departamento de Línguas, Universidade de Aveiro.
MATEUS, M.H, d’ANDRADE, E. (2000), The Phonology of Portuguese, Oxford University Press
SELKIRK, E. (1981), On prosodic structure and its relation to syntactic structure. In T. Fretheim, ed., Nordic Prosody II, Trondheim: TAPIR.
Direitos de Autor (c) 2024 Fernando Martinho

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.