Presença de bactérias patogénicas e resistência antimicrobiana em ungulados selvagens portugueses

  • D. Dias Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • R. Torres Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • C. Fonseca Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • S. Mendo Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • T. Caetano Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
Palavras-chave: Resistência a antibióticos, Bactérias patogénicas, Ungulados selvagens, Amostras fecais, E. coli, Salmonella, STEC

Resumo

De uma forma geral, os animais selvagens não estão expostos a agentes antimicrobianos. Assim, espera-se que a resistência da sua flora bacteriana a antibacterianos seja muito reduzida. Contudo, a crescente interação destes animais com atividades antropogénicas pode contribuir para um aumento da resistência das suas comunidades bacterianas. O presente estudo teve como objetivo: i) avaliar os níveis de resistência de isolados de E. coli e Salmonella spp. ii) avaliar o nível de ocorrência de estirpes de E. coli produtoras da toxina shiga (STEC). Para tal, foram recolhidas 67 amostras fecais das três espécies de ungulados com maior distribuição em Portugal: veado (n=42), javali (n=21) e corço (n=4), em três localizações geográficas distintas (Montesinho, Idanha-a-Nova e Lousã). Dez isolados de E. coli de cada amostra foram selecionados com base no seu crescimento em agar e amplificação dos genes uidA e gadA/B. Antes da realização dos testes de suscetibilidade a antibióticos, os isolados foram submetidos a BOX-PCR para selecionar estirpes geneticamente diferentes em cada amostra (n=152). Os resultados mostraram que 16,5% dos isolados de E. coli apresentam resistência a pelo menos um antibiótico, incluindo ampicilina (10%), tetraciclina (9%), streptomicina (5%), cotrimoxazol (4%), amoxicilina/ácido clavulânico (2%) e cefoxitina (1%), tendo em consideração os cut-offs clinicamente relevantes. Um fenótipo de multirresistência foi encontrado em 3% destes isolados, todos provenientes do centro de Portugal (Lousã). De acordo com os cut-offs epidemiológicos, 18% da população de E. coli analisada apresentou um fenótipo do tipo não-selvagem a pelo menos um antibiótico. No que se refere à ocorrência de Salmonella spp., os resultados indicam uma baixa prevalência (1,5%) deste agente etiológico na população de ungulados selvagens estudada, tendo sido apenas identificada num javali da região da Lousã. A pesquisa de STEC revelou que tanto veados como corços dos três locais estudados são portadores destas estirpes. Foram detetadas três variantes do gene stx (gene que codifica para a toxina shiga) nos isolados STEC, incluindo stx1c, stx2d e stx2g. Os resultados obtidos mostram que as populações de ungulados selvagens estudadas são reservatórios de
bactérias resistentes, assim como de bactérias potencialmente patogénicas e podem, por isso, atuar como
veículo de transmissão destas bactérias entre a vida selvagem, a pecuária e o Homem.

Publicado
2016-01-01
Secção
Artigos