A vida entre dois mundos - a metamorfose não apaga a história larvar de invertebrados marinhos com ciclos de vida bifásicos

  • Felisa Rey Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • Gina M. Silva Neto Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • Rui Rosa MARE – Marine and Environmental Sciences Centre, Laboratório Marítimo da Guia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
  • Henrique Queiroga Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
  • Ricardo Calado Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro
Palavras-chave: Stress osmótico, Carcinus maenas, Interações fenotípicas, Ciclos de vida complexos

Resumo

O ciclo de vida da maioria dos invertebrados marinhos alterna entre o ambiente pelágico (na coluna de água) e bentónico (no fundo). As larvas desenvolvem-se no meio pelágico, enquanto os adultos ocupam o bentos, cabendo às formas larvares realizarem a interface entre estes dois ambientes. As condições a que as larvas estão sujeitas durante o desenvolvimento e nos momentos de interface, podem influenciar a sobrevivência ou o fenótipo das mesmas, refletindo-se nas fases subsequentes do seu ciclo de vida. Neste estudo avaliámos o efeito da exposição a baixas salinidades de megalopas (último estado de desenvolvimento larvar dos caranguejos braquiúros) do caranguejo verde Carcinus maenas no momento em que estas regressam ao estuário para realizar a sua metamorfose (transição entre os modos de vida pelágico e bentónico). Foram simuladas condições resultantes de períodos de chuva intensa, que se refletem na salinidade do estuário. Deste modo, as megalopas selvagens recolhidas do plâncton foram expostas a dois tratamentos: salinidade 10 (extrema) e 25 (controlo), em condições de inanição (ausência de alimento) até morrerem ou realizarem a metamorfose. Após a metamorfose, todos os caranguejos juvenis em estádio 1 (C1) foram aclimatados a uma salinidade de 25 e mantidos em condições constantes de temperatura e alimento até caranguejo em estádio 5 (C5). Apesar da resistência das larvas à baixa salinidade, a vulnerabilidade nutricional e o custo do stress osmótico repercutiu-se no desempenho dos juvenis. Os indivíduos que foram expostos mais tempo a condições adversas, apresentaram os tamanhos mais pequenos e os pesos mais baixos, dando lugar a juvenis de menor qualidade. O início da vida bentónica é assim condicionado pela experiência pelágica, confirmando que a metamorfose não apaga a história larvar.
Publicado
2016-01-01
Secção
Artigos