Imagens de mulheres na Imprensa Portuguesa

  • Silvana Mota-Ribeiro Universidade do Minho
  • Zara Pinto-Coelho Universidade do Minho

Resumo

A questão da representação visual das mulheres nos media , no cinema, nas artes visuais, na fotografia e numa multiplicidade de outras imagens tem sido largamente debatida, com o intuito de perceber o que estas imagens dizem acerca do feminino e do modo como a “feminilidade” é engendrada, tornada acessível aos indivíduos e interiorizada (Betterton, 1987a). Trata-se de interrogar as mensagens visuais respeitantes ao “feminino” com a preocupação de analisar e desconstruir o modo como essas representações produzem e despertam significados e fazem circular ideologias acerca do que é, e do que deve ser, a mulher e como, assim, produzem uma imagem / representação social do feminino.
Os diversos textos culturais, difundidos de forma mais ou menos alargada, são entendidos como organizadores de todo um imaginário ligado à mulher, afirmando-se, por isso, como um campo incontornável, quando se trata de questionar relações de poder e de combater mecanismos de perpetuação da dominação masculina. A crítica feminista da representação sempre se envolveu na contestação dos discursos visuais acerca das mulheres (MotaRibeiro, 2005a), tornando-os tema de luta, de discussão e de análise, e desenvolvendo um corpo de textos relativos à mulher nos diferentes meios. A publicidade, as belas-artes, a fotografia, o cinema, as revistas femininas, a televisão, enquanto contextos de produção de feminilidade, colocam a questão de compreender como poderão ser alterados, de modo a permitir a exploração de novas formas através das quais as mulheres possam produzir e assumir o controlo das suas próprias representações e dos textos culturais acerca de si. Salientam-se as reflexões acerca da relação dos anúncios publicitários com a construção social do género e da diferença sexual e acerca do papel da ideologia nas imagens publicitárias (e.g. Winship, 1987; Goffman, 1979; Williamson, 1988; Betterton, 1987b; MotaRibeiro, 2005b). A questão das imagens visuais do feminino tem sido polémica e suscitado estudos também em diversos contextos aparentemente mais restritos, como nos materiais promocionais de prevenção da droga (PintoCoelho, 2005), nos jogos de vídeo (Dietz, 1998), nas imagens eróticas / pornográficas (e.g. Holland, 1987) ou nas artes visuais (e.g. Chicago & LucieSmith, 1999). Especialmente na pintura e escultura, e também na fotografia, a produção e reflexão têm tido essencialmente como pano de fundo a sexualidade e o corpo feminino (e.g. Dinnerstein & Wietz, 1998). A crítica feminista tem procurado igualmente dar conta das ambiguidades presentes em imagens que aparentemente desafiam as definições patriarcais dos atributos femininos ou os actualizam (Bartky, 1998). No entanto, de entre os contextos onde se produzem representações das mulheres, aqueles que mais prevalecem e mais se enraízam nas representações sociais dos indivíduos são precisamente os que têm que ver com manifestações massificadas, ou seja, os mais amplamente divulgados. Chegam a um público mais alargado e são mais relevantes entre a multiplicidade de estruturas que condiciona a posição da mulher na sociedade (Marshment, 1993). Destacam-se, neste caso, os meios de comunicação social, mais concretamente a imprensa como condicionadores desse papel. Assim, pretendemos interrogar as imagens de mulheres publicadas na imprensa diária portuguesa, com o intuito de contribuir para o campo mais vasto da crítica da representação visual das mulheres, pelos media no nosso país. O material de investigação consiste nas imagens visuais fotográficas e jornalísticas de seres humanos adultos do sexo feminino, publicadas num dia, escolhido aleatoriamente, em três jornais nacionais. Recorrendo, aqui, à perspectiva da sócio-semiótica visual de Kress e van Leeuwen (1996, 2000), analisamos estas imagens com diferentes tipos de preocupações: como é que as mulheres são representadas, através de que mecanismos, com que implicações, tanto a nível interaccional como social.

Publicado
2005-01-01