Do que vale o que se diz: o boato como categoria classificatória
Resumo
O conceito de boato tem sido abordado, amiúde, sob dois conjuntos de perspectivas predominantes: o primeiro, centrado nos seus conteúdos e origens, discutindo-se ora a verdade ou falsidade da matéria tratada, ora a razão mítica ou arquetípica mais profunda, ora a natureza das angústias e ansiedades que alimentam a sua reprodução; o segundo discute o processo, analisando as etapas e percursos de retransmissão, o trajecto de saturação do meio, a latitude das suas transformações e a racionalidade mecânica da redução e estabilização das suas versões. Menos frequente, uma terceira leitura procura dar, ainda, conta dos usos sociais e culturais do boato como estratégias de avaliação, nas comunidades, do impacte da informação emergente induzida. O presente trabalho visa interrogar algumas destas abordagens, a persistência do conceito e, como proposta de leitura, revisitar o seu uso, ambivalente, como forma de classificação, reflectido-se nesta a diversidade de poderes e interesses dos contextos em que circula.