Dilma e a construção da imagem de um governo feminino
Resumo
Na política, mais do que ser, é preciso parecer ser, incorporar valores e ideais que diferenciem determinado personagem de seus adversários e utilizar estratégias discursivas que consolidem essa identidade aos olhos dos outros, no caso, o eleitorado, para alcançar o objetivo final, que é chegar ao poder e se manter nele. Em tempos de comunicação em multiplataformas, essas estratégias discursivas são estendidas aos mais diferentes meios, em busca de construir um efeito de verdade a essa imagem, a partir de elementos que reforcem uma coerência discursiva. No caso de Dilma Rousseff, primeira mulher a ser eleita presidente da República no Brasil, a construção de uma identidade que a relacione tanto a uma agenda social como a uma prática política diferenciada por ser mulher foi iniciada ainda na campanha eleitoral, em 2010. No governo, isso tem se ampliado, com a constituição de uma comunicação oficial que passou a incorporar também elementos pessoais da governante, em especial a condição feminina, como um aspecto de distinção de Dilma. Para compreender de que forma isso tem se difundido como uma política de comunicação, e quais as estratégias discursivas utilizadas para efetivar essa construção, proponho analisar o portal da Presidência da República do Brasil, canal oficial do governo brasileiro na Internet. Na página, a questão de gênero é exposta repetidamente, tanto na forma de tratamento definido pela governante - “presidenta” (a forma mais comum é o uso do substantivo “presidente” como comum de dois gêneros, porém o dicionário Michaelis admite o feminino flexionado, que também é atribuído à “esposa do presidente”) - como em discussões especiais sobre a mulher, disponibilizadas em links. A partir das concepções teóricas de Pierre Bourdieu e Erving Goffman, proponho uma análise dos elementos visuais e verbais utilizados na portal da Presidência com foco na construção da identidade de Dilma e do governo Dilma, de forma a perceber os recursos usados para a ressignificação do feminino como um atributo positivo para a gestão pública. Análise que se torna ainda mais relevante diante do contexto sócio-cultural e político do país, marcado por uma clara contradição: no Brasil, a mulher segue excluída do debate público - segundo levantamento da Inter-Parliamentary Union, entre 190 nações, o país ocupa o 119º lugar no ranking de participação de mulheres no Legislativo -, ao mesmo tempo em que Dilma Rousseff tem obtido seguidos recórdes de aprovação de governo, segundo pesquisas feitas pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em março de 2013, 79% dos entrevistados declaram aprovar o jeito dela governar.