O processo [neo]paradigmático do audiovisual como instrumento da exteriorização e exercício do ver: uma experiência educomunicativa com jovens autistas
Resumo
A tecnologia da visão representa a coloração humana do ver. É com ela que uma série de efeitos se multiplicam no cotidiano das pessoas. O presente trabalho se desenvolve na busca em alcançar o processo e reprodução tecnológica do ver através das técnicas videográficas. Discute o processo de aproximação videográfica de jovens autistas, estudando as suas capacidades comunicacionais com as ferramentas tecnológicas. Numa abordagem interdisciplinar, situamos este estudo na perspectiva de uma cognição inventiva (Varela et all, 2003; Maturana, 2002) em uma convivência configurada por sujeitos, instituições, tecnologias. O vídeo será utilizado metodologicamente como extensão da visão humana (McLuhan, 2007), que tem ambiência na sistematização do roteiro videográfico elaborado pelos sujeitos produtores e possuidores de capacidade educomunicativa. Nesse percurso teórico resta evidenciado a importância de valorização das potencialidades desses sujeitos, ao passo que se lustra a condição cognitiva do autista como tendo uma identidade própria, sem que para conviver socialmente eles abdiquem de suas peculiaridades comunicativas e busquem mecanismos para tornarem-se pessoas ditas normais (Canguilhem, 2009). A tecnologia farmacológica, inicialmente valorizada e conjugada com a internação manicomial, fora substituída ao longo do tempo por outras metodologias que articulam linguagens
e tecnologias na experiência com jovens autistas. Pesquisas em curso no Brasil priorizam o trabalho envolvendo educação e tecnologias, passando a focalizar os espaços de saúde mental. O encontro de jovens com tecnologias – vídeo, informática, rádio, fotografia etc. – fortalece e impulsiona o avanço na descoberta de novas possibilidades para o trabalho com saúde mental a partir de uma interação que resgata a potencialidade singular do ser, principalmente no trato social, ampliando a rede de inteligências combinadas com as características diferenciadas das potencialidades que (co)habitam em sociedade. Como método de pesquisa, utiliza-se o vídeo como extensão da visão humana, que teve ambiência na sistematização do roteiro ideográfico elaborado pelos personagens produtores em oficinas para operações básicas de utilização dos equipamentos na captação das imagens e busca alcançar a sua natureza educomunicativa
na produção de sentidos. Na seara videográfica, esse trabalho se coloca com potencialidade de perturbar e desestabilizar modos de ação já acolhidos no social, estabelecendo uma ponte, uma fresta desde onde os jovens habitam a cidade. Eis que o processo educomunicativo desponta na utilização dos instrumentos de mídia capaz de produção e autoria. A virtualização assim delimitada servirá para descobrir “[...] uma questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutar a entidade em direção a essa interrogação e em redefinir a atualidade de partida como resposta a uma questão particular” (Lévy, 1996, p. 17-18). Na experiência educomunicativa o jovem se encontra envolvido no seu próprio olhar e encontra-se consigo mesmo nas atividades por ele desenvolvidas, pois assim como esclarece Maturana (2001), somos capazes de observar o próprio observar em uma experiência de terceira ordem na linguagem.