Para além de “Vigiar e Punir”: a prática de piano numa experiência em contexto prisional
Resumo
Em Vigiar e Punir, Michel Foucault identifica a disciplina e a “docilização" como os dois principais processos utilizados nas prisões para moldar e controlar os corpos e a vontade dos indivíduos, tentando dessa forma reconstruir identidades que correspondam aos padrões de comportamento exigidos para viver em sociedade. Estas estratégias são, no entanto, criticadas por muitos, e diferentes sistemas prisionais procuram atividades e programas que possam contribuir positivamente para a experiência de reclusão.
Este artigo descreve o projeto "Nas asas de um piano... aprendo a voar" desenvolvido em 2013-2014 numa prisão feminina em Portugal. Partindo de atividades como a improvisação, composição e memorização de peças simples, abordando também princípios básicos de leitura de partitura numa fase posterior, as sessões individuais evoluíram até à apresentação de 3 diferentes concertos, dentro e fora da prisão.
Com base nesta experiência, é feita uma reflexão sobre o fosso que separa a experiência vivida neste projecto e o ambiente hostil descrito por Foucault, encontrando evidências claras de que a música é uma poderosa ferramenta para o Desenvolvimento Humano: catalisa emoções, abre canais de comunicação entre indivíduos, promove a autoeficácia, a confiança, o perdão e motivação para descobrir e experimentar outras experiências.