Jazz é Cultura: O 1º Festival Internacional de Jazz de Cascais e o “caso” Charlie Haden
Resumo
Em 1971, durante a governação de Marcelo Caetano, em plena guerra colonial, surge a iniciativa de Luís Villas-Boas, João Braga e Hugo Lourenço, da realização do primeiro festival de Jazz em Cascais.
A iniciativa concretizou-se a partir do contacto privilegiado de Luís Villas-Boas junto do organizador do “Newport Jazz Festival”, George Wein e deu inicio a um ambicioso e inovador projecto que deixaria marcas profundas no cenário sociopolítico da época em Portugal. Na sua primeira edição o Cascais Jazz teve como mensagem associada “JAZZ É CULTURA”, conforme se publicou no seu cartaz de apresentação. Os organizadores procuravam assim evitar potenciais conotações políticas e contestatárias que o sistema de censura do regime político pudesse interpor. O festival teve o apoio oficial da Secretaria de Estado de Informação e Turismo, organismo que tinha a tutela dos serviços de censura em Portugal.
Ironicamente a iniciativa acabou por proporcionar uma acção de relativo impacto nacional e internacional de contestação política do colonialismo português, motivada pela actuação do músico norte-americano Charlie Haden. Este contrabaixista durante a actuação do quarteto de Ornette Coleman resolveu dedicar o seu tema “Song for Che” aos movimentos de libertação das colónias.
Neste trabalho exploro as contradições entre a perspectiva de lazer e cultura dos organizadores e a acção política dos intervenientes e o logro involuntário que o regime político experimentou ao associar-se a este evento.
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