Práticas de Conservação de Água em Empresas de Enoturismo em Portugal Análise e Determinantes
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Resumo
Objetivos | Reconhecido pela forte tradição vitivinícola e pela beleza das suas paisagens vinícolas (Guedes & Rebelo, 2019), Portugal tem apostado no enoturismo como forma de dinamizar os destinos vinícolas. Esta aposta tem permitido atrair um número crescente de turistas ávidos por experiências vinícolas únicas, sendo o enoturismo uma atividade em franco crescimento no país (Maduro, Guerreiro, & de Oliveira, 2015). No entanto, a sustentabilidade destes destinos e deste setor depende, em grande parte, da conservação de um recurso natural essencial: a água. Este recurso desempenha um papel central tanto no processo vitivinícola, como na promoção de experiências turísticas (Alonso, Bressan, Kok, & O’Brien, 2021). Neste contexto, a conservação da água numa perspetiva de sustentabilidade tem dois grandes benefícios. Em primeiro lugar, assegura a viabilidade a longo prazo da indústria vinícola e dos serviços turísticos associados. Em segundo, ajuda a preservar os ecossistemas aquáticos locais e a qualidade de vida das comunidades residentes nestes destinos que dependem deste recurso. É pois imperativo compreender e valorizar a importância da conservação da água a nível do enoturismo em Portugal. Neste sentido, há necessidade de refletir sobre as práticas sustentáveis atuais de gestão da água pelo enoturismo em Portugal. Além disso, para uma visão mais profunda sobre esta temática, é essencial também investigar os determinantes que podem influenciar as decisões sobre a adoção destas práticas por parte dos decisores destas empresas. Para tal, este estudo tem como objetivos principais: i. Investigar o estado das práticas de conservação da água atualmente em vigor nas empresas de enoturismo em Portugal: identificar os principais serviços/atividades oferecidas e refletir sobre os seus gastos de água, bem como analisar as medidas e tecnologias utilizadas para reduzir o consumo e o desperdício deste recurso; ii. Identificar e analisar os principais determinantes na adoção dessas práticas por parte dos empresários e decisores: fatores que impulsionam (motivadores) ou dificultam (barreiras) a adoção de práticas de conservação de água por parte dos empresários e decisores das empresas de enoturismo, bem como os benefícios associados à implementação das mesmas.
Metodologia | A metodologia de investigação utilizada no presente trabalho adota a triangulação inter-métodos. Neste sentido, optou-se por dois tipos de recolha de dados primários (Fase I e Fase II), onde foi utilizado o método misto de investigação de natureza distinta: qualitativa (Fase I – inquérito por entrevista em profundidade semiestruturada) e quantitativa (Fase II – inquérito por questionário). A amostra, em ambas as fases, é composta por está direcionada aos proprietários/gestores ou decisores das empresas vitivinícolas com serviços e atividades de enoturismo. Na fase I, um total de representantes de 10 empresas mostraram-se disponíveis para participar no estudo. Após a codificação das empresas (E1 – E10), utilizou-se a organização dos dados das entrevistas e posteriormente análise de conteúdo através do Software MaxQDA (22). Na fase II, foram recolhidos até ao momento um total de 78 questionários completos válidos. O programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) (versão 29.0) está a ser utilizado no tratamento de dados desta fase.
Principais resultados e contributos | Relativamente ao objetivo I deste trabalho os principais serviços/atividades oferecidas são as provas de vinhos, as visitas às adegas/vinhas e loja de compra. A oferta de experiências gastronómicas, programas de vindimas ou piqueniques são também referidas por uma parte das empresas. Os gastos e desperdícios de água estão associados principalmente com a lavagem de utensílios utilizados nas provas, bem como na limpeza e utilização das infraestruturas de apoio. As práticas de conservação da água são sobretudo de baixo custo e estão centradas principalmente na mitigação do desperdício e redução do seu consumo.
Para o objetivo II deste estudo, os resultados do estudo qualitativo destacam que as principais motivações para a adoção de práticas de gestão dos recursos hídricos são de natureza interna – pressão interna individual. Esta pressão está relacionada com a necessidade de preservar o património agrícola da família e a preocupação de que essa questão possa afetar o futuro da empresa e da sociedade em geral. Essas conclusões são consistentes com os dados preliminares quantitativos que indicam os fatores individuais como os principais motores da adoção destas práticas. Ambos os resultados referem que o principal benefício esperado está vinculado à redução de custos. Os entrevistados identificaram principalmente uma barreira interna organizacional como o principal obstáculo à adoção dessas práticas. Essa barreira está relacionada com as questões financeiras, especificamente o "custo de implementação das práticas". Ao examinarmos os dados quantitativos, os resultados evidenciam principalmente obstáculos externos (instituições), em particular a "falta de apoio financeiro institucional", "falta de uniformidade de normas", bem como “incentivos ambientais muito burocráticos”.
A nível de contributos, este artigo pretende dar início à reflexão sobre as estratégias de gestão hídrica no setor do enoturismo em Portugal, assim como identificar os determinantes que moldam as decisões dos empresários nessas estratégias. Trata-se de um trabalho pioneiro dado que adota uma abordagem multidisciplinar, incorporando quatro subdisciplinas, nomeadamente na área da sustentabilidade, marketing, psicologia e turismo. Estas contribuições têm o potencial de serem aplicadas em políticas públicas ambientais, orientar práticas empresariais, contribuir para campanhas de marketing social mais eficazes e inspirar pesquisas futuras no campo da sustentabilidade.
Limitações | Este estudo apresenta algumas restrições que requerem consideração na interpretação dos resultados. A nível do estudo qualitativo, é importante notar que as empresas analisadas estão situadas exclusivamente em duas das catorze regiões vitivinícolas de Portugal. Mais precisamente, a região predominante neste estudo é a dos Vinhos Verdes. Esta região é caracterizada por uma elevada pluviosidade e uma abundância de recursos hídricos, o que a diferencia das regiões de Portugal que enfrentam problemas significativos de escassez de água. É plausível argumentar que essas condições climáticas favoráveis podem influenciar atitudes e comportamentos pró-ambientais, possivelmente atuando como uma barreira à adoção de práticas de conservação de recursos hídricos. No que concerne ao estudo quantitativo, é pertinente observar que, devido à recolha de dados estar ainda em progresso, o tamanho da amostra atual é relativamente limitado. Esta circunstância impõe a necessidade de abordar os resultados com moderação e de ponderar cuidadosamente as conclusões.
Conclusões | Os objetivos deste estudo foram formulados com base nas lacunas identificadas na revisão da literatura sobre enoturismo sustentável, com foco na gestão hídrica. Apesar de vários estudos abordarem a sustentabilidade de maneira geral, poucos investigaram de forma abrangente as práticas de conservação da água no contexto do enoturismo em Portugal. Assim, no âmbito do estudo empírico, devido à limitada disponibilidade de informações, foi necessária uma recolha de dados exploratórios para aprofundar o conhecimento. As informações fornecidas constituíram a base para a segunda fase do estudo empírico. Os resultados aqui apresentados são preliminares e necessitam de um maior aprofundamento ao nível da análise estatística, e de um aumento na dimensão da amostra. As informações apontam a preocupação ambiental e a preservação do património agrícola como motores importantes na tomada de decisões das empresas. No entanto, também há barreiras significativas que limitam a implementação dessas práticas. Estes dados devem ser trabalhos para aprimorar o desempenho das empresas, considerando a vital importância da preservação da água no contexto do enoturismo em Portugal. Isso não apenas promove a sustentabilidade do setor, mas também protege os recursos hídricos e o bem-estar das comunidades.
Referências bibliográficas
Alonso, A. D., Bressan, A., Kok, S. K., & O’Brien, S. (2021). Filling up the sustainability glass: Wineries’ initiatives towards sustainable wine tourism. Tourism Recreation Research, 0(0), 1–15. DOI: 10.1080/02508281.2021.1885801
Guedes, A., & Rebelo, J. (2019) Merging wine and tourism-related services: evidence from the Douro (Portugal) Wine Region. Journal of Wine Research, 30(4), 259-274. DOI: 10.1080/09571264.2019.1652152
Maduro, A. V., Guerreiro, A., & de Oliveira, A. (2015). The industrial tourism as enhancer of local develo pment case study of Alcobaca Wine Museum in Portugal. Pasos Revista De Turismo Y Patrimonio Cultural, 13(5), 1129–1143. DOI: 10.25145/j.pasos.2015.13.077