Inovação e sustentabilidade em turismo rural A motivação e perceção dos turistas
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Resumo
Objetivos: O Turismo rural tem um elevado potencial para estimular o crescimento da economia local e a mudança social devido à sua complementaridade com outras atividades económicas, à sua contribuição para a criação de rendimento e emprego ao nível local e à sua capacidade de induzir a procura turística ao longo do ano (OMT, 2022). Daí que Pato (2015) tenha enfatizado três propósitos principais da atividade turística em Portugal: i) oferecer a quem procura a oportunidade de reviver as práticas, os valores e as tradições culturais e gastronómicas das sociedades rurais, beneficiando de um acolhimento personalizado; ii) contribuir para a diversificação do turismo nível nacional; iii) contribuir para a diversificação das atividades agrícolas e rurais, isto é o desenvolvimento rural. Mas para alcançar estes propósitos e atrair uma procura turística considerável, o produto turístico deverá por um lado ser inovador e por outro lado sustentável. Se estas premissas parecem ser cada vez mais importantes no turismo rural (Lane et al., 2022), a investigação feita a este respeito, particularmente em Portugal é ainda parca. Assim com base num inquérito por questionário dirigido a turistas, o objetivo deste trabalho é explorar as razões pelas quais os turistas vêm a sustentabilidade e a inovação nos empreendimentos de turismo rural como uma característica importante para o sucesso da atividade turística e diferenciação destes empreendimentos num mercado turístico cada vez mais competitivo.
Metodologia: Para o desenvolvimento deste trabalho foi aplicado um inquérito por questionário a turistas que já ficaram alojados ou pensam ficar alojados em empreendimentos de turismo no espaço rural (TER). O inquérito foi constituído por seis secções principais: i) O que motiva os turistas a pernoitar em empreendimentos de TER; ii) A perceção dos turistas em relação aos espaços rurais; iii) Sustentabilidade Social, Económica e Ambiental nas áreas rurais; iv) Inovação nos empreendimentos de TER; v) Preço por noite; vi) Dados demográficos. O inquérito é constituído por escalas de likert de 5 pontos (na secção I e II), sendo que as restantes secções incluem questões fechadas e com múltipla escolha. Com o objetivo de validar o inquérito realizou-se um pré-teste, com a aplicação de 12 inquéritos presenciais durante 1 semana. Depois do ajustamento do inquérito foi lançado nas redes sociais e aplicado de forma presencial durante os meses de maior fluxo turístico, final de julho, agosto e início de setembro. Foram obtidos 125 inquéritos. A análise dos dados envolveu estatísticas descritivas exploratórias com base no SPSS.
Principais resultados e contributos: Em termos de caracterização sociodemográfica a amostra neste estudo é constituída por turistas do sexo género feminino, com idades compreendidas entre os 21 a 60 anos, que viajam em geral acompanhados de família e cujo motivo principal é o lazer. A sua maioria são pessoas pertencentes à classe média e superior e funcionários comercias e/ou administrativos. Os dados recolhidos, indicam que os turistas se sentem motivados a procurar empreendimentos de TER principalmente por questões de: tranquilidade (64%), relaxar a mente (62,4%) e escapar ao stress do dia a dia (64,8%). Na sua maioria, a perceção que os inquiridos têm sobre os empreendimentos de TER, é que estes são espaços seguros, tranquilos e calmos (62,4%), são atrativos históricas e heranças culturais diversas (36%) e estão associados a uma gastronomia variada (36,8%). A maioria dos inquiridos (98%) considera importante que os empreendimentos de TER tenham um plano estratégico sustentável e 92% considera importante que os empreendimentos de TER tenham ligações com entidades e associações locais e/ou regionais. Quando se questionou sobre a importância dos certificados ambientais, 67% dos inquiridos afirmou que os certificados não são importantes, dando mais atenção ao que é executado no terreno. A maioria dos inquiridos (96%) considera importante a inovação do empreendimento turístico, sobretudo se esta estiver ligada ao produto/serviço com a introdução de produtos diversificados no mercado, à inovação organizacional, e ao marketing. A maioria dos inquiridos (95%) observa ainda a sustentabilidade como forma de inovação. No que se refere aos preços a pagar pelo serviço, verifica-se que os inquiridos estão dispostos a pagar entre os 51€ a 200€. Os contributos deste estudo permitem perceber de forma clara a motivação e perceção dos turistas associada a aspetos de inovação e sustentabilidade, permitindo assim desenvolver de uma forma mais ajustada um empreendimento de TER.
Limitações: A principal limitação do trabalho é temporal. Isto limitou o desenvolvimento de outros instrumentos de recolha de informação, com destaque para a realização de entrevistas. Daí que em termos futuros, seria importante a realização de entrevistas, onde os turistas pudessem expressar a sua motivação e perceção em relação a aspetos valorizados nos empreendimentos de TER.
Conclusões: O estudo permite concluir que num mercado cada vez mais competitivo e de incertezas, os empreendimentos de TER podem afirmar-se como unidades de alojamento com particularidades próprias, que se relacionam com a segurança e tranquilidade proporcionada como enfatizado nos estudos de Silva & Carvalho (2022), com a cultura, as tradições e história local e com a gastronomia tradicional. Mas para alcançar os objetivos preconizados, não se tem dúvidas que os aspetos relativos à inovação e à sustentabilidade se apresentam como premissas a considerar na conceção e desenvolvimento deste tipo de empreendimentos.
Referências bibliográficas
Lane, B., Kastenholz, E., & Carneiro, M. (2022). Rural Tourism and Sustainability: A Special Issue, Review and Upgrade for the Opening Years of the Twenty-First Century. Sustainability, 14, 6070. doi:https:// doi.org/10.3390/su14106070
OMT. (2022). UNWTO. Obtido de United Nations World Tourism Organization: https://www.unwto.org/
Pato, L. (2015). A Construção e Desenvolvimento do Turismo no Espaço Rural em Portugal: o papel da administração central nos seus conteúdos. Turismo em Análise, 26(4), 919-932.
Silva, S., & Carvalho, P. (2022). Turismo Rural em Portugal no contexto de incerteza decorrente da covid-19. Biblos, 8 (3), 169-194. doi:https://doi.org/10.14195/0870-4112_3-8_8