Planeamento e desenvolvimento turístico, Prosilience e o papel central do Terceiro setor em tempos de incerteza

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Rui Miguel Ferreira Carvalho
João Tomaz Simões

Resumo

Objetivos | Face à emergência de práticas mais sustentáveis de turismo, acentua-se a importância de mecanismos que garantam a participação ativa das comunidades locais nos processos de planeamento e desenvolvimento turístico (Dangi & Petrick, 2021; Erdmenger, 2022b; Seyfi et al., 2022; Vargas-Sánchez, 2022). Neste contexto, o terceiro setor, incluindo ONGs e outras entidades (Martins, 2017), tem vindo a afirmar-se como um setor relevante capaz de influenciar as estratégias turísticas num dado destino. Estas organizações podem desempenhar um papel determinante nas fases de planeamento turístico, defendendo os direitos e interesses das comunidades locais dos destinos turísticos, sobretudo em cenários adversos. Se por um lado, idealmente todas as políticas tomadas ao nível do destino têm o objetivo de fazer crescer o turismo (Torkington et al., 2020), desenvolver o turismo dentro das suas capacidades sociais e ambientais, pode implicar o foco em políticas contemporâneas de crescimento que são inevitavelmente insustentáveis (Sharpley, 2023). Neste sentido o recente conceito de “prosilience” contrariando a muito citada “resilience” (e.g. Michopoulou et al., 2023; Prayag, 2023)  surge como uma forma de governance dos destinos com o objetivo de conceder aos atores da governação local, incluindo os responsáveis pelo ordenamento do território, os políticos, a indústria do turismo, os investigadores, meios de comunicação social, organizações sociais e residentes a capacidade de agregar o seu capital social para contribuir e beneficiar simultaneamente do turismo na sua cidade (Erdmenger, 2022a). O objetivo desta investigação passa por procurar verificar a efetividade de estruturas de capital social envolvendo o terceiro setor nos vários planos de desenvolvimento turístico nacionais.


 


Metodologia | Com o intuito de explorar a intersecção entre os paradigmas do planeamento turístico (Costa, 2014), o novo conceito de “prosilience” e o papel determinante do terceiro setor em períodos de incerteza, esta investigação adota uma abordagem interdisciplinar. Implementar-se-á uma revisão sistemática da literatura sobre as variáveis centrais do estudo procurando analisar como a essência do conceito de “prosilience” e o terceiro setor têm vindo a estar presentes nos planos de desenvolvimento turístico nacionais. Paralelamente, realizar-se-á uma análise crítica de estudos de caso selecionados com base em critérios de relevância para o planeamento turístico sustentável e o papel preponderante do terceiro setor.


 


Principais resultados e contributos | Procura-se assim dar destaque à crescente da sustentabilidade no planeamento turístico e ao imperativo de uma governança onde as comunidades locais e o terceiro setor possam vir a desempenhar um papel efetivo, participando e influenciando as tomadas de decisão de forma a enfrentar os desafios contemporâneos. O terceiro setor emerge como um agente vital no processo de planeamento turístico sustentável, assegurando que o turismo beneficie genuinamente as comunidades locais. Salienta-se o conceito emergente de "Prosilience", que, de forma proactiva, se apresenta como uma estratégia promissora face aos desafios iminentes da sustentabilidade e planeamento turístico (Erdmenger, 2022a).


 


Limitações | Este estudo, ao centrar-se em documentos oficiais de planeamento e desenvolvimento sustentável do turismo e ao adotar uma abordagem baseada em estudos de caso, pode enfrentar limitações na generalização dos resultados. Investigação futura poderá beneficiar de uma abordagem mais diversificada e inclusiva. Novas investigações poderão procurar analisar plataformas “multistakeholder” (Blühdorn & Deflorian, 2019) na prossecução de estratégias de turismo sustentável incorporando estas novas realidades.


 


Conclusões | Este trabalho sublinha a vitalidade da sustentabilidade no planeamento turístico, particularmente em cenários de incerteza. O modelo de “governance” dos destinos assente na ideia de “prosilience” em vez de “resilience”, pode dar um maior destaque ao terceiro setor, revelando-se fulcral na promoção de práticas de planeamento turístico mais sustentáveis e na proteção dos interesses das comunidades locais. A introdução de conceitos inovadores oferece novos prismas e estratégias para abordar os desafios do turismo sustentável reiterando a urgência de uma colaboração contínua e inovadora no sector turístico para assegurar um futuro mais sustentável e equitativo no que ao turismo diz respeito.


 


Referências bibliográficas


Blühdorn, I., & Deflorian, M. (2019). The collaborative management of sustained unsustainability: On the performance of participatory forms of environmental governance. Sustainability (Switzerland), 11(4). https://doi.org/10.3390/SU11041189


Costa, C. (2014). Gestão estratégica do turismo: Evolução Epistemológica dos modelos e paradigmas, e tendências para o futuro. In C. Costa, F. Brandão, R. Costa, & Z. Breda (Eds.), Turismo nos países Lusófonos: conhecimento, estratégia e territórios (1st ed., pp. 19–40). Escolar Editora.


Dangi, T. B., & Petrick, J. F. (2021). Augmenting the Role of Tourism Governance in Addressing Destination Justice, Ethics, and Equity for Sustainable Community-Based Tourism. Tourism and Hospitality, 2(1), 15–42. https://doi.org/10.3390/tourhosp2010002


Erdmenger, E. C. (2022a). Localability for Everyone: A PROsilient and Inclusive Destination Governance Model. In Pechlaner, Zacher, & Störmann (Eds.), Resilienz als Strategie in Region, Destination und Unternehmen (pp. 279–308). Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-658-37296-5_10


Erdmenger, E. C. (2022b). The end of participatory destination governance as we thought to know it thought to know it. Tourism Geographies, 0(0), 1–23. https://doi.org/10.1080/14616688.2022.2086904


Martins, P. G. (2017). Formas de Participação do Terceiro Setor no Contexto do Turismo - O Caso do Algarve. https://ria.ua.pt/bitstream/10773/22841/1/Tese Paula Guerreiro Martins.pdf


Michopoulou, E., Pappas, N., & Azara, I. (2023). Event Innovation and Resilience During Times of Uncertainty. Event Management, 27, 477–480. https://doi.org/10.3727/152599523x16836740487997


Prayag, G. (2023). Journal of Hospitality and Tourism Management Tourism resilience in the ‘ new normal ’ : Beyond jingle and jangle fallacies ? Journal of Hospitality and Tourism Management, 54(October 2022), 513–520. https://doi.org/10.1016/j.jhtm.2023.02.006


Seyfi, S., Hall, C. M., Vo-thanh, T., & Zaman, M. (2022). How does digital media engagement influence sustainability-driven political consumerism among Gen Z tourists ? How does digital media engagement influence sustainability-. Journal of Sustainable Tourism, 0(0), 1–19. https://doi.org/10.1080/09669582.2022.2112588


Sharpley, R. (2023). Sustainable tourism governance: local or global? Tourism Recreation Research, 48(5), 809–812. https://doi.org/10.1080/02508281.2022.2040295


Torkington, K., Stanford, D., & Guiver, J. (2020). Discourse(s) of growth and sustainability in national tourism policy documents. Journal of Sustainable Tourism, 28(7), 1–22. https://doi.org/10.1080/09669582.2020.1720695


Vargas-Sánchez, A. (2022). Industry 4.0, Circular Economy, and Tourism. Journal of Information Technology Applications & Management, 29(5), 1–12. https://doi.org/https://doi.org/10.21219/jitam.2022.29.5.001


 

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Biografia do Autor

Rui Miguel Ferreira Carvalho, +351 243 305 880

Rui Carvalho é Professor Adjunto no ISLA Santarém - Instituto Superior de Gestão e Administração e Professor de Turismo na Escola Profissional de Torres Novas, Portugal. Doutorado em Turismo pela Universidade de Aveiro, possui um Mestrado em Desenvolvimento de Produtos Turísticos Culturais e uma licenciatura em Gestão Turística Cultural, ambos pelo Instituto Politécnico de Tomar. Actualmente, é membro da unidade de investigação sobre Governação, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOPP) da Universidade de Aveiro.