Política de turismo em contexto de mudanças climáticas: A ótica dos stakeholders para a Amazônia Brasileira

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Cláudia Helena Nunes Henriques
Jacqueline Maria Corá

Resumo

Objetivos  O presente artigo visa averiguar qual a ótica dos stakeholders do turismo da Amazónia Brasileira relativamente aos valores e ações que devem estar associados à politica de turismo  neste território, no âmbito de um processo transformador em prol de um desenvolvimento sustentável, em contexto futuro de alterações climáticas.


 


Metodologia | Após uma reflexão teórica sobre as interconexões entre planeamento turístico e desenvolvimento sustentável em contexto de alterações climáticas assente numa revisão bibliográfica de artigos em plataformas como Scopus e Web of Science, segue-se uma análise de um conjunto de documentos de política internacional de entidades como a UNWTO e WTTC, destacando-se o Baseline Report on Climate Action in Tourism (UNWTO, 2022), entre outros. Adicionalmente, também se reflete sobre a importância do Acordo de Paris e da Declaração de Glasgow (2021) lançada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) e o Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas (IPPC, 2023).


Após a problematização teórica, avança-se para o estudo de caso associado à Amazónia brasileira e nomeadamente contemplando o Complexo de Conservação da Amazônia Central (CCAC), no Amazonas, classificado como Patrimônio Natural da Humanidade (UNESCO, 2019).


Num primeiro momento, a abordagem é de natureza qualitativa assente na análise de conteúdo categorial (Bardin, 2015) dos documentos de política de turismo associados à Amazónia brasileira. Num segundo momento, avança-se para uma aplicação de um questionário a um conjunto de stakeholders do turismo da amazónia, nomeadamente associados ao CCAC.


O questionário é aplicado on line através do google forms recorrendo à técnica Delphi, a qual visa alcançar o consenso entre os especialistas selecionados (Moreira e Santos, 2020). O questionário, após ter inquirido sobre o perfil sócio-demografico dos respondentes, assenta em dois grandes grupos de questões, nomeadamente:


(i)        Principais ações/medidas/estratégias no domínio de turismo que contribuam para a adaptação do CCAC e o setor do turismo amazonense às mudanças climáticas na Amazónia


(ii)       Principais condicionalismos para integrar novas ações a favor da defesa climática (devido a incompatibilidade entre o uso turístico e outros usos).  Contemplaram-se algumas condições incentivadoras de ações individuais e coletivas (governança inclusiva, diversidade de conhecimento e valores, integração entre setores e escalas temporais, …) e condições que condicionam a ação (pobreza; falta de financiamento e barreiras tecnológicas; …) (IPPC, 2023). Adicionalmente, considerou-se as ações por tipologia de empresas do setor do turismo segundo a WTTC (2021).


 


Principais resultados e contributos | “A mudança climática e a perda da biodiversidade são as preocupações mais cruciais desta década para as sociedades pacíficas”, tal como assinala o estudo o “Mundo em 2030” (UNESCO, 2020). Sob o reconhecimento que o Brasil enfrenta riscos ambientais excecionais (Grimm, Alcantara & Sampaio, 2018) e de que é fundamental integrar mudanças climáticas nas reformas e planos para estimular o crescimento brasileiro (BIRD/BM, 2023), as políticas de turismo sustentável assumem-se como determinantes. A nível da Amazónia, muitos desafios são identificados, tais como monitoramento das florestas por satélite, medidas penalizadoras e fiscalizadoras de atividades ilegais que coloquem em causa os ecossistemas naturais, incentivos a praticas de manejo eficiente e inteligente de ativos naturais, entre outros. Uma boa inter-relação entre o turismo e outros setores de atividade económica que são destaque no PPDCAm (2023) ao prever estímulos aos segmentos do turismo associados à natureza, como o ecoturismo, o turismo de base comunitária e o etnoturismo. Desta forma, incentivam-se estratégias de valorização da cultura tradicional e local, e o turismo regenerativo, que atua de forma sistémica na paisagem, incluindo ações de prevenção, mitigação aos danos ambientais.


 


Limitações | A Amazónia ocupa um território com muitos desafios conduzindo a ter em conta uma multiplicidade de linhas de investigação e distintas tipologias de turismo. O estudo assume-se como exploratório visando abarcar um número mais elevado de especialistas no futuro.


 


Conclusões | Amazónia Legal corresponde a cerca de 60% do território brasileiro e acolhe diversas etnias de populações originárias que possuem amplo conhecimento sobre formas de manejo equilibrado e sustentável do bioma. Além disso, este território constitui-se um patrimônio ambiental com potencial econômico e com vínculos para o turismo, ainda pouco conhecido e explorado. No entanto, a Amazónia está identificada como um dos destinos turísticos com um nível de impactos mais significativos em termos de mudanças climáticas. Embora muitos dos problemas estejam identificados e algumas das medidas tenham vindo a ser avançadas, a dificuldade na sua implementação é uma realidade incontornável que os stakeholders reconhecem. No futuro próximo o turismo sustentável é identificado como a prioridade, embora as medidas de mitigação face às mudanças climáticas tendam a ser vistas como avançando a um ritmo lento que poderá comprometer a forma de experienciar alguns dos principais produtos turísticos amazonences. Simultaneamente, o grau de dependência de determinadas localidades face ao turismo pode deixá-las mais vulneráveis à mudança climática devido à dificuldade de obtenção de consensos para avançar na implementação das medidas necessárias.


 


Referências bibliográficas


 


BIRD/BM (2023). Brasil: Relatório sobre Clima e Desenvolvimento para o pais. World Bank Publications.


Moreira, C. O. & Santos, N. (2020). Tourism qualitative forecasting scenario building though the Delphi Technique. Cuad. Tur. 433-457.


Grimm, I., Alcantara, L. Sampaio, C. (2018). O turismo no cenário das mudanças climáticas: impactos, possibilidades e desafios. Revista Brasileira de pesquisa em Turismo, 12(3), pp. 1-22 set/dez. 2018.


IPPC [The Intergovernmental Panel on Climate Change] (2023). IPPC Sections. In: Climate Change 2023: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, H. Lee and J. Romero (eds.)]. IPCC, Geneva, Switzerland, pp. 35-115, doi: 10.59327/IPCC/AR6-9789291691647.


 


PPDCAm (2023) Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia legal


5ª Fase (2023 a 2027). In https://www.fundoamazonia.gov.br/export/sites/default


/lledocumentos/politicas-publicas-orieano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento  Amazônia legal


UNESCO (2019). Complexo de Conservação da Amazônia Central (CCAC) – AM. http://unesco.org


 


UNESCO (2020). Pesquisa pública "O mundo em 2030": mudança climática e perda da biodiversidade são, de longe, as maiores preocupações; o multilateralismo e a educação são as soluções mais importantes. In https://www.unesco.org/pt/articles/pesquisa-publica-o-mundo-em-2030-mudanca-climatica-e-perda-da-biodiversidade-sao-de-longe-maiores


UNWTO (2019). Position Paper on Tourism Policy and Strategic Planning. UNWTO.


 


UNWTO (2022). Baseline Report on Climate Action in Tourism. Doi: https://doi.org/10.18111/9789284423965


 


WTTC/UN (2021). A NET ZERO ROADMAP FOR TRAVEL & TOURISM. Proposing a new Target  Framework for the Travel & Tourism Sector. In https://wttc.org/Portals/0/Documents/Reports/2021/WTTC_Net_Zero_Roadmap.pdf

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