Territorialização turística no município de Ouro Preto/MG Exemplos dos distritos de Lavras Novas e São Bartolomeu
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Resumo
Objetivos:
Ouro Preto, município mineiro situado na região sudeste do Brasil, distante cerca de 90km da capital do estado, Belo Horizonte, foi a primeira cidade brasileira a receber da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1980, a consagração como Patrimônio Mundial da Humanidade. O perímetro de proteção incluiu exclusivamente o distrito-sede, evidenciando especial e espacialmente o centro-histórico. Dessa maneira, acredita-se que seja salutar interpretar o território ouro-pretano através de uma perspectiva mais abrangente, pois a localidade é margeada por outros doze distritos, grande parte deles com potencial turístico aliado à herança histórica e cultural.
Assim, o objetivo geral do trabalho consiste em analisar a relação que se constitui entre o turismo, patrimônio cultural e território, destacando os exemplos dos distritos de Lavras Novas (LN) e São Bartolomeu (SB). Busca-se, especificamente, debater sobre os processos de turistificação, patrimonialização e territorialização suscitados nessas localidades.
Metodologia:
No presente artigo, de estudo empírico, apresentam-se os resultados preliminares da pesquisa de doutoramento em Geografia vinculada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e com período sanduíche na Universidade de Coimbra – UC. A pesquisa possui financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Expõem-se os resultados do trabalho de campo realizado no ano de 2023, em três ocasiões distintas. Além da técnica de observação não-participante recorreu-se a aplicação de questionário semiaberto online com os visitantes que estiveram em pelo menos um dos dois distritos investigados. Justifica-se a escolha dos visitantes como grupo de agentes sociais, pois consistem fundamentais na turistificação dos lugares, bem como no desdobramento de processos de territorialização e desterritorialização.
Principais resultados e contribuições:
Nas duas localidades o fluxo de visitação ocorre de maneira mais acentuada e expressiva em períodos específicos, como, por exemplo, fim de semana, feriados prolongados e férias. Mesmo que seja em diferentes intensidades, durante as épocas mencionada acima, observou-se manifesta uma territorialização de agentes exógenos, ocasionando, de maneira intencional ou não, a desterritorialização dos moradores locais de suas práticas cotidianas.
Em LN ocorreu frequente o descontentamento de visitantes sobre a recorrente queda de energia, congestionamento, superlotação, poluição sonora e visual etc. Além de suscitar processos de desterritorialização da população local, que tem a sua rotina de sossego e quietude alterada, o visitante que busca tranquilidade, paradoxalmente, acaba se deparando com os mesmos problemas encontrados nas cidades, especialmente nos núcleos urbanos mais adensados.
Mesmo sem a intenção de comparar os impactos da atividade turística nos distritos de LN e SB, isso acabou ocorrendo espontaneamente. Em SB verificou-se uma tendência à uma valorização do distrito como lugar de descanso e de patrimônios preservados, algo que, na ótica do visitante, distingue a experiência turística no local em relação a outros destinos, incluindo LN.
Em LN há uma demanda potencial para o turismo cultural, porém muitos visitantes acabam encontrando barreiras nesse sentido, como, por exemplo, os próprios moradores que não reconhecem as tradições locais como potencialmente turísticas. Tornar-se notório haver a conformação de microterritorialidade separando a população local dos agentes exógenos temporários (ROSVADOSKI; GAVA; DEBOÇÃ, 2014).
Em SB percebe-se que os patrimônios culturais, associados à perpetuação das tradições rurais, constituem elementos mais valorativos do lugar. Nesse distrito o turismo vem se desenvolvendo face ao processo de patrimonialização de suas manifestações culturais (DELABRIDA; CARVALHO, 2018). Destaca-se o registro do saber-fazer do doce de goiabada como patrimônio imaterial do município, bem como as ações entorno disso que fomentam o turismo na localidade.
Portanto, é capaz de distinguir modelos de turismo distintos em desenvolvimento nas duas localidades investigadas. Em SB é mais comum identificar práticas mais fidedignas ao turismo rural, que necessariamente vincula-se às características do meio rural incluindo arquitetura, contato direto com o modo de vida dos habitantes e a culinária da local, dentre outras (CANDIOTTO, 2010). Em LN visualiza-se diversos tipos de turismo no espaço rural sobrepondo as experiências mais intimistas com o lugar, como, por exemplo, turismo gastronômico, turismo de aventura, turismo na natureza e, até
mesmo, turismo de experiência etc.
Limitações:
O estudo ainda se encontra em desenvolvimento, sendo assim os resultados apresentados são parciais e deixa de contemplar a totalidade dos agentes sociais responsáveis pelo processo de turistificação dos distritos de LN e SB. A inclusão dos diferentes grupos de agentes sociais possibilita a pesquisa avançar em relação às abordagens descritivas e exploratórias, tornando-se exequível abarcar, através de uma perspectiva crítica, a abordagem explicativa.
Conclusões:
Foi possível identificar diferenças em relação ao modelo de turismo predominante nas duas localidades investigas. Em SB prevalece um tipo de turismo que prioriza o contato mais íntimo entre o visitante e as práticas cotidianas e tradicionais da população local. No caso de LN, o patrimônio cultural, apesar de se constituir a essência da identidade territorial do lugar, ainda não desempenha grande importância para a experiência turística, pois é pouco valorizado, seja pelo visitante ou pelo próprio morador, como potencialidade capaz de promover o desenvolvimento turístico de base endógena.
Portanto, o que se espera, como possíveis estratégias de reterritorialização da comunidade autóctone, é a elaboração de um turismo cultural voltado para a criação de um ciclo virtuoso de valorização do patrimônio e do cotidiano. Ademais, deve-se fomentar a busca por conhecimentos que efetivem uma participação cidadã ativa nos processos de tomada de decisão, na aquisição de competências e capacidades para auxiliar no planejamento público e privado do turismo.
Referências:
Candiotto, L. Z. P (2010). Elementos para o debate acerca do conceito de Turismo Rural. Revista Turismo em Análise. 21, 3-24.
Delabrida, N, O., G & Carvalho, A, N (2018). Turismo e gastronomia: uma análise do potencial gastronômico de São Bartolomeu, Distrito de Ouro Preto/MG. Revista Acadêmica Observatório de Inovação do Turismo. 12(2).
Rosvadoski, S. P., Gava, R., & DEBOÇÃ, L. P. (2014). Manifestações da identidade em processos de alterações locais: o caso do distrito de Lavras Novas, Ouro Preto (MG). Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, 14(1), 49-67.