Manipulação dos resultados nas perdas por imparidade em contas a receber: estudo das empresas com valores cotados em Portugal

  • Beatriz Correia de Vasconcelos Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro
Palavras-chave: manipulação dos resultados, determinantes, perdas por imparidade, contas a receber, crise financeira

Resumo

A informação financeira assume um papel de relevo na tomada de decisão por parte dos gestores e demais stakeholders de qualquer empresa. Assim, garantir a qualidade das demonstrações financeiras deve constituir um importante objetivo de uma organização. Porém, são inúmeros os incentivos que conduzem à manipulação dos resultados, o que leva à distorção da informação contabilística. Um dos meios de manipular os resultados, através de um accrual específico, é no reconhecimento de perdas por imparidade em contas a receber.

O presente estudo tem como objetivo analisar se existe manipulação dos resultados no reconhecimento das perdas por imparidade em contas a receber, por parte das empresas com valores cotados em Portugal, no período de 2010 a 2017, assim como identificar os determinantes do reconhecimento daquelas perdas.

A metodologia utilizada é de natureza quantitativa, construindo modelos de regressão para analisar, por um lado, os determinantes no reconhecimento das perdas por imparidade em contas a receber e, por outro lado, a existência de práticas de manipulação dos resultados. A recolha de dados foi efetuada através da base de dados SABI, complementada com a análise de conteúdo dos relatórios e contas disponíveis na CMVM.

Concluímos que o volume de negócios, a variação das contas a receber, o endividamento, a dimensão e o tipo de auditor são determinantes do reconhecimento das perdas por imparidade em contas a receber. Concluímos, ainda, que as empresas com valores cotados parecem manipular os resultados através das perdas por imparidade em contas a receber, mais concretamente através de income smoothing (alisamento dos resultados), especialmente no período pós crise, e via big bath durante o período de crise.

O nosso estudo contribui para a evidência de que as IAS/IFRS, não obstante serem reconhecidas como normas de elevada qualidade, são permissíveis à manipulação dos resultados, dada a discricionariedade e flexibilidade que lhes está associada.

Publicado
2019-04-16
Secção
Espaço de divulgação de teses