O tópos do paganismo na crítica e na estética literária: Pessoa e Botto

  • António Fernando Cascais Universidade Nova de Lisboa
Palavras-chave: Literatura, Paganismo, Esteticismo, Pessoa, Botto

Resumo

A autonomização da esfera do estético-expressivo, com a correspondente emergência da figura do artista como cultor de uma autêntica arte de viver, independente de códigos sociais, morais e ideológicos, é a condição última da defesa e ilustração que Fernando Pessoa faz de António Botto como esteta. O topos do paganismo constitui o eixo do argumentário pessoano no intuito de demonstrar que a obra de Botto é uma pura revivescência moderna do esteticismo helénico. No entanto, a polémica pública, político-moral, suscitada pela obra de Botto e respetiva defesa por Pessoa, haveria de pôr a nu as fragilidades intrínsecas do argumento do esteticismo pagão. José Régio ainda recorre a ele, mas de forma já muito precária e Jorge de Sena ultrapassa-o definitivamente.

Referências

ARENAS, Fernando (2010). “Fernando Pessoa: o drama homoerótico”. In Anna Klobucka e Mark Sabine (eds.). O corpo em Pessoa. Corporalidade, género, sexualidade. Lisboa: Assírio & Alvim, 127-151.

ARISTOTE (1988). L’homme de génie et la mélancolie. Traduction, présentation et notes de Jackie Pigeaud. Paris: Rivages.

BAUDELAIRE, Charles (2002). O pintor da vida moderna. Lisboa: Veja.

CASCAIS, António Fernando (2012). “Scrutinizing Historiography: Sexuality, Subjectivity and Identity from Pederasty to Sodomy to Homosexuality to LGBT/Queer”. In Anne Worthington (ed.). Queer Sexualities: Staking Out New Territories in Queer Studies. London: Inter-Disciplinary Press, 27-49 (1994). “Paixão, morte e ressurreição do sujeito em Michel Foucault”. Revista de Comunicação e Linguagens 19 (Michel Foucault: Uma analítica da existência) 77-117.

EDINGER, Catarina T. F. (1982). A metáfora e o fenómeno amoroso nos poemas ingleses de Fernando Pessoa. Porto: Brasília Editora.

FERNANDES, Aníbal (2010). Raul Leal, Sodoma divinizada. Organização, introdução e cronologia de Aníbal Fernandes. Lisboa: Babel.

FERNANDES, Maria da Conceição Azevedo (1998). António Botto - Um poeta de Lisboa. Vida e obra. Novas contribuições. Lisboa: Minerva.

FERREIRA, António Manuel (2012). Sinais de cinza. Estudos de literatura. Guimarães: Opera Omnia.

FOUCAULT, Michel (1984). L’usage des plaisirs. Paris: Seuil/Gallimard. (1977). A vontade de saber. Lisboa: Edições António Ramos.

GIDE, André (2001). Corydon. Paris: Gallimard.

KLOBUCKA, Anna (2009). “A invenção do eu: Apontamentos sobre a vida virtual de António Botto”. forma breve 7 (Homografias. Literatura e homoerotismo) 63-80.

LEAL, Raul (2010). “Sodoma divinizada. Leves reflexões teometafísicas sobre um artigo”. In Raul Leal. Sodoma divinizada. Organização, introdução e cronologia de Aníbal Fernandes. Lisboa: Babel, 77-94.

MAIA, Álvaro (2010). “Literatura de Sodoma – O Sr. Fernando Pessoa e o ideal estético em Portugal. In Raul Leal. Sodoma divinizada. Organização, introdução e cronologia de Aníbal Fernandes. Lisboa: Babel, 55-72

PATER, Walter Horatio (1910). The Renaissance: Studies in Art And Poetry [1873]. London: The Library Edition.

PESSOA, Alberto (s/d). Os homossexuais nos livros de Eça de Queiroz. Coimbra: Livraria Académica de Moura Marques & Filho.

PESSOA, Fernando (2010a). “Aviso por causa da moral”. In Raul Leal. Sodoma divinizada. Organização, introdução e cronologia de Aníbal Fernandes. Lisboa: Babel, 109-110 (2010b). “Sobre um manifesto de estudantes”. In Raul Leal, Sodoma divinizada. Organização, introdução e cronologia de Aníbal Fernandes. Lisboa: Babel, 127-131.

(2007). Obra essencial de Fernando Pessoa - Poesia inglesa. Edição de Richard Zenith. Lisboa: Círculo de Leitores (2006). Escritos sobre génio e loucura – Edição crítica de Fernando Pessoa. Volume VII, Tomo I. Edição de Jerónimo Pizarro. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. (1975). “António Botto e o ideal estético em Portugal”. In António Botto. Canções. Lisboa: Ática, 13-28. (1944). A nova poesia portuguesa. Lisboa: Editorial Inquérito.

PIZARRO, Jerónimo (2007). Fernando Pessoa: entre génio e loucura. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (2006). Edição crítica de: Fernando Pessoa. Escritos sobre génio e loucura – Edição crítica de Fernando Pessoa. Volume VII, Tomo I. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

RÉGIO, José (1978). António Botto e o amor, seguido de Críticos e criticados. 2ªed. Lisboa: Brasília Editora.

SENA, Jorge de (1984). Fernando Pessoa & Cª heterónima (Estudos coligidos 1940-1978). 2ªed. Lisboa: Edições 70.

SABINE, Mark (2010). “«Contínuo Mistério Reposto e Repetido»: homossexualidade e heteronímia em Antinous”. In Anna Klobucka e Mark Sabine (eds.). O corpo em Pessoa. Corporalidade, género, sexualidade. Lisboa: Assírio & Alvim, 189-226.

SIMÕES, João Gaspar (1974). Retratos de poetas que conheci. Porto: Brasília Editora. (1971). O mistério da poesia. Porto: Editorial Inova.

WILDE, Oscar (1993). Intenções. Lisboa: Cotovia.

WINCKELMANN, Johann J. (2008). Il bello nell’Arte. Scritti su l’arte antica. Milano: SE. (2003). Storia dell’arte dell’antichità [1755-1767]. Milano: Bompiani.

ZENITH, Richard (2007). “Prefácio”. In Obra essencial de Fernando Pessoa – Poesia inglesa. Lisboa: Círculo de Leitores, 9-35.

Publicado
2024-04-11