A escrita do impossível: o vazio de Deus em Kafka e Dostoïevski

  • Susana Rabaça Investigadora
Palavras-chave: Deus, morte, vida, impossível, vazio, música, omnitude, animalidade, solidão, subterrâneo

Resumo

Se aparentemente distantes, as obras de Kafka e de Dostoïevski partilham uma evidente coincidência no querespeita à expressão do transcendente, como algo incognoscível e inacessível. Deus, oculto e ausente, persegue o homem de uma culpa que parece datar ab initio, com o pecado original. Tombando no caos absoluto, o homemque habita o Subsolo de Deus, isto é, o Subterrâneo, renuncia às certezas, desconfia das leis e despreza o que lheera dado como certo, o dois e dois quatro. A solidão parece ser o único porto de abrigo para este homem queanseia por se lançar a perder, em busca de um infinito que sabe, desde já, inalcançável. E é no mais petrificantesilêncio aterrador que, por vezes, a expressão inefável do sublime se parece revelar, através da música redentora que, em Kafka, é a língua de Deus. O instante momento de revelação do sagrado é fugaz e efémero, mergulhandoo homem no terror e na vergonha e recordando‑o para sempre da distância inexorável que o separa do divino.
Publicado
2011-01-01
Secção
Artigos