A aventura incessante de Ulisses: Kazantzakis e José Miguel Silva

  • Carolina Donega Bernardes Universidade Estadual Paulista - SJRP
Palavras-chave: Nikos Kazantzakis, José Miguel Silva, Ulisses, modernidade, herói

Resumo

Largamente retomado pela tradição literária, o tema da viagem de Ulisses em muitas de suas representações confi rma o ideal do herói nostálgico que se dirige ao lar em cumprimento de seu nóstos, assim como, em outras, reafi rma o ímpeto do eterno navegador de mares. Nikos Kazantzakis retoma o Ulisses lendário, insatisfeito com o retorno ao lar, construindo a partir dele o seu protótipo de herói e dando forma, em plena modernidade, ao poema épico Odisséia: uma continuação moderna (1938). A partir do canto XXII, verso 477 do poema de Homero, Ulisses é levado a um novo itinerário abandonando Ítaca defi nitivamente. Embora se baseie em Homero, recuperando as personagens e a antiga estrutura épica, Kazantzakis não se afasta de seu tempo, compondo um novo Ulisses representante do mundo moderno, próximo das fi losofi as de Nietzsche e Bergson, bem como do budismo. Como fi gura «entre mundos», o Ulisses de Kazantzakis recupera as antigas delineações de Homero e igualmente incorpora as questões da modernidade – o niilismo, a desesperança, a multiplicidade. Contemporaneamente, José Miguel Silva encontra no mesmo tema da Odisséia homérica a matéria e a forma para compor Ulisses já não mora aqui. É pelo confronto da semelhança temática e das diferenças de composição entre as obras do poeta grego moderno e do poeta português que este artigo se constitui.

Publicado
2007-01-01
Secção
Outros estudos