O dilema entre orgulho, ascese e santidade em “Santo Onofre”, de Eça de Queirós
Resumo
Durante a década de 1890, Eça de Queiros (1845-1900) dedicou-se à escrita da vida de três santos: São Frei Gil, São Cristóvão e Santo Onofre. Coligidas postumamente em 1912, por Luís de Magalhães, no volume Últimas páginas, essas narrativas ficaram conhecidas como Vidas de Santos ou Lendas de Santos. Neste trabalho
procurarei analisar um desses textos, a história de Santo Onofre. A principal característica de Onofre é o sofrimento por incessantemente desejar a superação do seu elevado orgulho. A conclusão do texto parece sugerir duas mensagens básicas com relação ao conceito de santidade que Eça discute, inclusive, nas outras duas vidas de santos que produziu. A primeira é que o amor próprio desmedido e o orgulho são obstáculos significativos para uma vida religiosa ideal. A segunda mensagem, que destoa consideravelmente de diversas hagiografias tradicionais difundidas pela Igreja Católica, está relacionada com a crítica a um modelo de santidade baseado na vida ascética e contemplativa, cujos princípios não preveem o trabalho e a ação prática em favor dos excluídos, marginalizados e sofredores.