De Bash¯o a Leminski: o caso dos haiku de guerra

  • José António Gomes Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico do Porto; CLP (Centro de Literatura Portuguesa da Univ. de Coimbra); LITER21 (Univ. de Santiago de Compostela); InED (ESE do Porto)
Palavras-chave: Caim e Abel, guerra, haiku, poesia japonesa, poesia francesa, poesia brasileira

Resumo

Num colóquio subordinado ao tema “Caim e Abel: família e conflito”, cabe um estudo sobre modos literários de representação da guerra – que é sempre um combate entre homens, uma luta fratricida. O género escolhido é o haiku ou haicai que, entre os seus traços de origem, conta, além da brevidade extrema e da contenção retórica, com uma atenção peculiar às coisas da natureza, à qual não são alheias a atitude contemplativa e pacífica do poeta e monge viandante e, no caso japonês, a filosofia budista. Dir-se-ia, pois, que nada mais refractário à violência da guerra do que o haiku. Não é essa, contudo, a realidade com que depara o estudioso de um género que, sendo japonês de origem, conheceu expansão prodigiosa por todo o mundo ocidental, a partir de finais do século XIX, com inumeráveis cultores nos principais idiomas de matriz europeia. Do japonês Bash¯o (séc. XVII) ao brasileiro Paulo Leminski (finais do séc. XX), passando pelos poetas franceses que combateram nas trincheiras da Primeira Guerra (Julien Vocance, René Maublanc e outros) ou ainda pelos cultores japoneses do género que a seu modo foram vítimas também do segundo grande conflito mundial, o haijin confronta-se, mais vezes do que provavelmente esperaria, com o horror da guerra. E o haiku é uma forma outra, por vezes surpreendente, de o exprimir.

Publicado
2015-01-01