A diáspora africana através da música hip-hop portuguesa: um estudo de caso

  • Federica Lupati CHAM, FCSH, Universidade de Lisboa e Universidade dos Açores
Palavras-chave: cultura hip hop, diáspora africana, música da diáspora africana, diáspora africana em Portugal, Hip hop português, Valete

Resumo

A cultura hip hop surgiu nos anos 70 nos bairros pobres das periferias de Nova York, em particular no Bronx. Tendo as suas raízes na Jamaica, encontrou um importante espaço de desenvolvimento nas festas de quarteirão onde um DJ tocava seleções de músicas para entreter a comunidade. Num primeiro momento tratou-se duma manifestação apenas estética; contudo, não demorou muito para que se transformasse numa ferramenta política para as novas gerações que encontraram formas diferentes de expressar-se nas artes do deejaing, mcing, breakdancing e do graffiti. Estas novas formas de ação política prepararam o terreno para o que se virou num movimento cultural muito mais amplo, profundamente consciente e globalmente espalhado.
Em Portugal, o primeiro contacto com a cultura hip hop remonta à década de 1980, através da dança. É precisamente nesta década que o fluxo migratório dos PALOP para Lisboa se torna mais intenso. Contudo, os imigrantes africanos foram objeto de uma integração apressada que deixou de lado as suas diferenças culturais, continuando desta forma a viver na clandestinidade e a agarrar-se à esperança de voltar para a terra nativa. Embora naquela altura o hip hop não tivesse muita ressonância nos media portugueses, foi através da rádio e da televisão que os residentes das áreas periféricas de Lisboa tiveram acesso aos trabalhos dos rappers norte-americanos. Tomaram assim consciências das suas condições parecidas e das estratégias de resistência que a música lhes proporcionava: surgiu assim o rap em Portugal.
Finalmente, a cultura hip hop visa negociar entre as experiências da marginalização, da opressão e do preconceito étnico através dum exercício constante de metalinguagem que lhe permite traduzir o sentimento de injustiça vivido pelos jovens afrodescendentes e nas margens da sociedade.
No presente trabalho tencionamos aprofundar estas reflexões e observar como é reconstruída a perceção e a memória da África e da diáspora africana pelo rapper Valete, artista filho de santomenses mas a viver em Lisboa.

Publicado
2016-01-01