A arte portuguesa e as fronteiras da Europa

  • Nuno Rosmaninho Universidade de Aveiro
Palavras-chave: Europa, arte portuguesa, identidade nacional, fronteiras, Flandres, Espanha

Resumo

Este artigo analisa as fronteiras que os historiadores e críticos de arte tiveram de erguer a partir do século XIX para garantir a originalidade e o valor de Portugal. O meu ponto de partida é a noção de Europa: pretendo mostrar a irrelevância deste referente e sugerir que o seu uso se reporta, na maior parte dos casos, aos países centrais. Baseando-me nos discursos identitários sobre a história da arte portuguesa, mostrarei que as fronteiras nacionais reconhecidas até ao fim de Oitocentos eram ténues, episódicas e insusceptíveis de garantir uma sólida autonomia nacional, e que na transição para o século XX os intelectuais repensaram as relações históricas com a Flandres, Espanha, Itália, França e Alemanha e provaram que Portugal era um país artisticamente consistente e autónomo. Não é a ideia de Europa que determina a formação contemporânea de uma identidade artística portuguesa. A Europa só emergiu como unidade artística quando foi preciso combater o internacionalismo, isto é, as vanguardas apátridas e alegadamente judaicas ou orientalizantes. Essa invocação foi, porém, breve e inconsequente, reactiva, e por isso incapaz de travar o fascínio pela globalização. As identidades artísticas nacionais olharam a Europa como um recurso defensivo circunstancial, que serviu nos anos de 1930 e 1940, para resistir
ao inapelável avanço da arte moderna. Os patriotas em arte acolheram-se à ideia de Europa para contrariar o processo de mundialização onde se adivinhava a obsolescência dos critérios nacionais oitocentistas.

Publicado
2016-01-01