O Esplendor de Portugal ou a impossibilidade de aprender a liberdade

  • Teresa Cristina Cerdeira Universidade Federal do Rio de Janeiro
Palavras-chave: neocolonialismo, Próspero, Caliban, fluxo de consciência

Resumo

 Não será esta a primeira vez que as alegorias shakespearianas de Próspero e Caliban são utilizadas para referir o modelo colonialista, até porque esta era, com toda a certeza, uma linha de leitura fundamental para o autor de A Tempestade. A minha proposta intenta centrar-se no romance de Lobo Antunes – O Esplendor de Portugal – cujo título, como tantos outros do mesmo autor, é uma espécie de “ready-made” ou, em outras palavras, um recorte operado no sistema da cultura.
Para tornar comprometidos significantes e significados, estruturas e significações na construção deste romance, pareceu-me produtivo aludir às referidas alegorias que denunciam, de um lado, a máscara dos brandos costumes portugueses e, de outro, a inequívoca incapacidade africana de escapar à fatalidade do lugar de escravo, falseando assim o sentido mesmo da liberdade. O Esplendor de Portugal, que desemboca num trágico impasse político, econômico, sociológico e cultural, nos dá a ver uma grande farsa social sem qualquer possibilidade de remissão para nenhum dos lados convencionais de oprimido e opressor, rasurando qualquer possibilidade de aprender saudavelmente diante das consequências – nefastas e concretas – das opções assumidas e dos atos cometidos. Se também Shakespeare não redime seus personagens, se também para ele Próspero e Caliban não elidem as suas ambiguidades, ousaríamos dizer que Lobo Antunes vai mais longe no nihilismo e na tragédia, fazendo mergulhar seus anti-heróis em um grande teatro de máscaras que os insere definitivamente na mais extrema solidão, o que a organização romanesca dá a ver através de sua estrutura discursiva. É tão somente este o ponto que me interessa discutir.

Publicado
2016-01-01