“Le roi Candaule” de La Fontaine – um conto, na diversidade de géneros dos ecos literários de um célebre episódio de Heródoto

  • Cristina Abranches Guerreiro CEC / FLUL
Palavras-chave: La Fontaine, conto, novela, Giges e Candaules, Heródoto, Platão

Resumo

«Force gens ont été l’instrument de leur mal: / Candaule en est un témoignage” – assim começa La Fontaine o conto “Le roi Candaule et le maître en droit”, inspirado num célebre episódio de Heródoto (I, 8-13). Refere o historiador que, orgulhoso da beleza da esposa, o rei lídio Candaules propôs a Giges (membro da sua guarda pessoal) que a visse nua, escondido nos aposentos reais. Sentindo-se injuriada por o marido assim a expor aos olhos de outro homem, a rainha ordenou a Giges que escolhesse entre matar Candaules ou sofrer a morte por ter visto o que não devia. Giges optou pelo regicídio, desposou a viúva e alcançou o poder. Na versão narrada por Platão (Rep. II, 359c-360b; X, 612b), Giges (um ambicioso pastor da casa real) sobe ao trono da Lídia, com os poderes de um anel mágico, que lhe permite entrar invisível no palácio, seduzir a rainha e matar o rei. Em diversos géneros literários, não faltam testemunhos da recepção deste episódio. Foi tema de tragédia (Gyges und sein Ring de Friedrich Hebbel; König Kandaules de Hugo von Hofmannsthal), drama (Le Roi Candaule de André Gide) e comédia (El anillo de Giges, y máxico rey de Lydia de José de Cañizares; Le Roi Candaule de Henry Meilhac e Ludovic Halévy; Le Roi Candaule, comédia lírica com libreto de Maurice Donnay e música de Alfred Bruneau). Além do conto de La Fontaine, a novela Le Roi Candaule de Théophile Gautier e o romance The English Patient de Michael Ondaatje são alguns dos textos narrativos que retomam a história de Giges e Candaules, que poderá ter sido também uma das fontes de inspiração de Cervantes na “Novela del Curioso impertinente”.

Publicado
2019-02-27