“A vida apertada numa hora” – Machado de Assis: contista e teórico do conto
Resumo
Considerando os contos machadianos, em suas duas fases de produção, pretende-se analisar de que modo o autor de Brás Cubas estabelece, mesmo que de modo difuso, bases para uma teoria do conto, em consonância com os principais teóricos do assunto. Mesmo que não tenha formalmente teorizado sobre o conto, em alguns momentos de sua obra, especialmente nas introduções e advertências de suas coletâneas de narrativas curtas, o escritor brasileiro tece algumas considerações importantes sobre o gênero, as quais nortearão sua produção como contista, em especial a partir de Papéis avulsos. A quantidade de contos escritos por Machado de Assis demonstra uma preferência pelas narrativas curtas e condensadas, terreno produtivo em que o autor pôde tecer suas análises e desenvolver sua habilidade de escrita e de inquiridor da vida social e psicológica. A diversidade de temas e de recursos formais que o autor utilizará em suas narrativas demonstra o quanto cada um dos textos formula, em sua construção, uma reflexão sobre a própria feição que o gênero conto pode assumir. Pela capacidade de “apertar a vida” ao condensar a representação da realidade na forma curta do conto, Machado estabelece aquelas que são as bases de sua obra: o particular – a realidade brasileira do século XIX, e o universal – o ser humano e seu caráter essencialmente contraditório. Considerando esses fatores, objetiva-se analisar como o modo machadiano de construir essas narrativas fixa as principais diretrizes do gênero na literatura brasileira, segundo Lima Sobrinho (1967), e abre caminho para a sua difusão e consolidação durante o século XX. Após essas explanações, o trabalho analisará as modalidades do conto machadiano, com ênfase nos denominados por Alfredo Bosi como “contos-teoria”, e explicará o seu modo característico de configuração artística.