Questões sobre o romance contemporâneo de Mia Couto

  • Maria Aparecida Cruz de Oliveira Universidade de Brasília
Palavras-chave: Romance contemporâneo, sobreposição de gêneros, literatura moçambicana, coralidades, Mia Couto

Resumo

Flora Süssekind ao trazer o conceito de “coralidades” no artigo “Objetos verbais não identificados” (2013) sugere o surgimento de “irrupções de modos corais na cultura literária brasileira. Com frequência, ligadas a certa instabilização das formas e do campo cultural de modo geral” (p. 1). Esses textos brasileiros que possuem formas corais e lógicas corais representam um índice das mudanças que ocorrem na literatura, pois esses traços de mudanças também parecem alcançar a literatura moçambicana em Terra sonâmbula, de Mia Couto (2007). Em Terra sonâmbula, percebemos algumas marcações de “coralidades” por meio da sobreposição ou tensão dos gêneros: “Terra Sonâmbula é um romance construído pela parodização do conto, enquanto estrutura genérica prismática, associada à parábola, à fábula, à alegoria, ao sonho e à profecia, costurados pela intromissão constante do provérbio” (Leite, 2012, p. 176). A adoção dessas macroestruturas da forma evidencia o modelo interpretativo da realidade da sociedade moçambicana. Claro que a constituição do romance é dada pela presença de vários gêneros, mas mais do que a sobreposição de gêneros literários vemos que esse romance apresenta sobreposições de vozes (vozes do moçambicano mestiço, negros, estrangeiro), discursos sobrepostos (vários narradores), tempos divergente que se relacionam (tradição e modernidade), espaços que se cruzam (o mar, a terra), e a conciliação ou não, de dois sistemas: o oral e o escrito, representados pelos personagens Muindinga (leitor dos cadernos) e Kindzu (escritor das estórias contidas nos cadernos), são exemplos cabais do constante rompimento da literatura contemporânea com as tradições literárias anteriores.

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Publicado
2019-02-27