Alice Moderno, a ‘filha de Antígona’ discretamente emancipada
Resumo
Em 2011, Hilary Owen e Cláudia Pazos Alonso publicam, sob a chancela da Bucknell University, Antigone’s Daughters? Gender, Genealogy and the Politics of Autorship in 20th Century Portuguese Women’s Writing, volume que trata o modo como seis escritoras portuguesas do século passado – Florbela Espanca, Irene Lisboa, Agustina Bessa-Luís, Natália Correia, Hélia Correia e Lídia Jorge – poderão ser consideradas “filhas de Antígona”, por terem mostrado insubmissão, através da atuação socioprofissional e da obra literária, perante valores políticos, sociais e artísticos impostos pelo patriarcado então vigente, que afetou os mais variados domínios. Da mesma forma como Antígona enfrentou Creonte e as leis humanas, também essas mulheres portuguesas terão assumido uma conduta semelhante, desafiando a sociedade e as figuras masculinas do poder. Tendo em conta esta premissa e o estudo publicado pelas académicas anglo-saxónicas, propomos aumentar o número das escritoras que, no Portugal de finais do século XIX e primeira metade do século XX, terão vestido, de alguma forma, a pele de Antígona e aí importa-nos sugerir e atribuir “a mesma filiação” a Alice Moderno (1867-1946), figura discretamente emancipada num tempo em que a voz feminina era silenciada pelo olhar masculino e num espaço restrito e exíguo, como a ilha açoriana de S. Miguel. A sua vida, pautada por uma conduta social revestida de certa ousadia e entregue a causas e valores sociais nobres, interessa como exemplo do papel da mulher portuguesa enquanto mobilizadora de formas de libertação, para mais em território insular.
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