Por mão feminina: Judite, a judia
Resumo
Tiranos e tiranicídios eram um tema comum entre os declamadores e a retórica escolar helenística e bizantina. Entre os casos tratados, contava-se o de uma mulher que subira à alcova de um tirano para o matar, vindo a reclamar a recompensa devida. Em Antígona, o autocrata impõe sua vontade como lei, num estado em que nenhuma mulher jamais haveria de fazer leis. Em Israel, num tempo ficcional em que se misturam referências a impérios que nunca coexistiram, emerge da sombra uma respeitada nobre judia, viúva, que giza um plano para executar Holofernes, comandante assírio, estando as forças deste na iminência de destruir Israel. Como a sua émula tebana, fá-lo por iniciativa pessoal e constrangida pela piedade religiosa. Diferentemente desta, move-se pelo ímpeto de uma luta existencial da sua nação, luta pela liberdade, identidade e preservação do seu povo e do culto religioso pátrio, na terra que tinham por sua, contra o risco do extermínio pela ferocidade de uma horda estrangeira ímpia e opressora. Judite assume o desígnio pessoal do tiranicídio. O livro celebra a coragem de uma mulher que é a mão feminina do Deus que operou a libertação do seu povo. Uma mulher torna-se heroína nacional num mundo em que os homens tinham a preeminência. Há um misto de qualidades atribuídas geralmente aos varões, como a prudência e valentia nos conselhos, e de virtudes tidas por mais femininas. Não sendo partícipe da luta armada, exalçam-na o artificio da sedução feminina, que leva ao ludíbrio um homem que é o tipo do soberbo e luxurioso; finalmente, a vida recatada e temperada que manteve na viuvez, como exemplo para os concidadãos.
Direitos de Autor (c) 2025 Rui Miguel Duarte

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.




