Antígone América: resistência e prefiguração da ditadura brasileira
Resumo
Ao longo do século XX, Antígona se tornou um símbolo de resistência das minorias contra a opressão e a injustiça, da força do indivíduo contra o Estado. Desde então, a tragédia de Sófocles recebeu inúmeras adaptações e releituras em que sua heroína catalisa a reflexão sobre os dilemas da contemporaneidade. No Brasil não foi diferente e, dentre as reconfigurações da filha de Édipo no continente americano, darei destaque a Antígone América (1962), peça que marca a estreia de Carlos Henrique Escobar (São Paulo, Brasil, 1933 – Aveiro, Portugal, 2023) enquanto dramaturgo. Embora tenha sido gestada e produzida antes da ditadura militar que se instalou no país por duas décadas (1964-1985), Antígone América apresenta um diagnóstico das tensões sociais e políticas que levaram ao golpe militar. Interessa discutir a transposição da personagem sofocleana para o contexto brasileiro de então e como a peça de Escobar contribuiu para tornar Antígona uma voz crítica da ditadura, visto que a tragédia grega será reencenadaem mais de uma ocasião durante esse período. Duas montagens foram especialmente significativas, ambas de 1969, ano que marcou o recrudescimento da ditadura, manifesto na censura generalizada, tortura e prisões arbitrárias: Ato sem Perdão, dirigida por José Renato, e Antígona, por João das Neves, respectivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
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