Táticas trágicas e táticas cômicas de enfrentar o poder: Antígona e Lisístrata
Resumo
Antígona e Lisístrata, as protagonistas que dão nome às célebres peças trágica e cômica, possuem táticas de enfrentamento do poder que talvez possam ser caracterizadas como antagônicas. A primeira segue tenaz e conscientemente rumo à morte, cumprindo a tarefa que lhe parece justa e ao mesmo tempo colhendo a glória que acompanhará o seu feito (Antígona, v. 502): o sucesso da sua empresa é indissociável do seu próprio sacrifício. A segunda dribla os representantes do poder com planejamento estratégico e lábia; a sua empreitada é bem-sucedida e coroada com a festa cômica. A primeira tem inscrito em seu nome o enfrentamento (anti-, contra), a segunda a liberação (lysis-, ação de desatar, liberar). Por um lado, ambas podem ser tidas como representantes de seus gêneros literários: uma indo contra o poder e perecendo deliberada e tragicamente em decorrência disso; a outra dissolvendo espertamente, num golpe de inteligência com boas doses de absurdo e comicidade, os obstáculos que se lhe opõem. Por outro lado, ambas também podem ser vistas como representantes de um mesmo gênero feminino, e nesse sentido não são poucos os temas que as aproximam: a oposição entre a lógica do poder político e a lógica da família e do oikos; as consequências funestas que a guerra masculina causa na esfera feminina; a relação privilegiada das mulheres com a philia e o casamento são alguns dentre eles. Este artigo tem como objetivo comparar as táticas das duas heroínas relativamente ao uso que fazem da condição feminina para enfrentar o poder vigente.
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Referências
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