O genoma trágico de Antígona: transmissão e mutações do mito tebano
Resumo
Muito antes de conquistar um inequívoco protagonismo na produção de todos os grandes tragediógrafos da Época Clássica ‒ que parecem ter vertido quase obsessivamente no seu caudal simbólico a sombra ominosa das lutas fratricidas contemporâneas ‒ a saga mítica de Tebas, alicerçada sobre a desventurada linha sucessória da família real inaugurada por Cadmo, ocorre em múltiplas alusões narrativas, desde o primordial testemunho poético da Ilíada e da Odisseia, que acabará por se replicar depois em múltiplas alusões dos vários poetas arcaicos, e detalhar--se na sequência narrativa do chamado Ciclo Épico Tebano.
Fundada sobre o núcleo simbólico de uma maldição, transmitida hereditariamente de pais a filhos, onde se multiplicam e agravam padrões de desvios e mecanismos de subversão, semelhantes aos de uma doença segregadora, a saga tebana ocorrerá também na transmissão textual, sequenciada por muito diversas versões narrativas, marcada por recorrentes incoerências. Ao abrigo deste peculiar enquadramento temático, propusemo-nos, pois, à semelhança de um exercício de sequenciação genética, descodificar o genoma de Antígona, analisando comparativamente as versões textuais antigas, e identificando os seus desvios e mutações narrativas. Pelo confronto das distintas versões, tentamos perceber em que medida a mundividência antiga aprofunda a convicção de que um erro ou desvio de comportamento, configurado como uma subversão à linearidade, pode assumir-se um motor de acção trágica para os infelizes mortais.
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