Nas margens da periferia? O conto guineense

  • Martin Neumann Universität Hamburg
Palavras-chave: conto guineense, centro versus periferia, tradição contística africana, contos em crioulo, coletâneas de contos literários, temas pós-coloniais

Resumo

Este ensaio tenta dar uma resposta à pergunta: porque é que a rica produção contística da Guiné-Bissau, tanto em português como em crioulo, passa quase despercebida, apesar da (na grande maioria) elevada qualidade dessas obras. A razão tem a ver com a ‘marginalidade’ do país quer em relação à antiga metrópole, Portugal, e ao mundo lusófono, quer no que diz respeito às outras culturas africanas. A instabilidade política (com raízes históricas), a complexa situação linguística, assim como a inevitável necessidade de organizar a sobrevivência quotidiana, são razões que impedem uma receção adequada na Guiné-Bissau, e precárias condições de publicação e escassas possibilidades de distribuição limitam a difusão  desta literatura ao nível internacional. No entanto, o género literário ‘conto’ em África é um conceito multifacetado, que abrange todo uma gama de narrativas curtas que vão do milenário conto oral ao conto literário contemporâneo, incluindo muitas formas ‘híbridas’ que misturam as múltiplas funções da narrativa tradicional com as exigências de uma escrita pós-moderna. A panorâmica das dezanove coletâneas de contos guineenses que é por fim apresentada, espelha e prova esta riqueza, diversidade e variedade do conto guineense, que vai de contos (anónimos) tradicionais em crioulo, passando pelos contos semi-ouvidos, semi-inventados de Odete Costa Semedo, até, por exemplo, aos contos literários de Fogo Fácil de Marinho de  Pina.

Publicado
2019-02-27