Os movimentos argumentativos das emoções em discursos políticos
Resumo
A emoção, como forma de argumentação, sempre foi um elemento constitutivo dos discursos, surgindo já na Retórica de Aristóteles. Sejam as emoções reais (comunicação emocional) ou tenham fins discursivos (comunicação emotiva) (Plantin, 2000), o Locutor convoca-as para o seu discurso, usando diferentes modos de semiotização. O recurso às emoções é uma forma de agir sobre o alocutário, persuadindo-o em favor de uma determinada ideia ou captando a sua pietas. Trata-se, portanto, de uma técnica discursiva com potencial para alterar a disposição do auditório, convergindo para o aumento da eficácia de um argumento. No plano verbal, as emoções podem ser expressas, explicita ou implicitamente, ou construídas (“visée”, na termi- nologia de (Kerbrat-Orecchioni, 2000), recorrendo-se a termos de emoção ou outros termos descritivos, que convencionalmente são/estão associados a uma emoção. Além destes, são frequentemente utilizadas figuras retóricas, como a metáfora ou a hipérbole, que potenciam uma cena indutora de um estado de espírito que favorece a persuasão (Micheli, 2010). Embora sejam vistas, por vezes, como formas ornamentais, constituem ferramentas argumentativas, já que permitem apresentar um raciocínio de forma contundente (Reboul, 2004). A partir de um corpus de intervenções políticas proferidas por altos representantes do Estado, analisar-se- -á o material verbal, em particular as “palavras de emoção” e as figuras retóricas que contri- buem para a patemização do sofrimento e da (in)justiça. Procurar-se-á demonstrar que estes elementos integram movimentos argumentativos em favor de um raciocínio e alinhados com o propósito do produtor do texto de fazer com que o outro concorde, em absoluto, com o seu ponto de vista (Charaudeau, 2016).
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