A figura do herói guerreiro na declamação grega da antiguidade tardia

Palavras-chave: Exercícios de retórica, Libânio, Corício de Gaza, Antiguidade Tardia, Recepção da comédia, Recepção de Aquiles

Resumo

Concentrando-se nas obras de Libânio e Corício (retores do século IV e VI, respectivamente), este artigo tem como objectivo a exposição das diferentes facetas que a figura do herói guerreiro adquiriu nas declamações. Estas eram exercícios modelares compostos para uso em sala de aula, mas que, ao longo do tempo, adquiriram também um valor lúdico, sendo declamadas fora do contexto escolar. Embora a literatura grega da Antiguidade tardia esteja a tornar-se cada vez mais um objecto de estudo, os estudiosos não têm prestado muita atenção às qualidades literárias da declamação grega. Aqui destacam-se, nomeadamente, a sua capacidade de criar novos mundos, a absorção e apropriação de modelos literários (epopeia, drama e romance) e a crescente tendência de explorar o âmbito pessoal em vez do cívico ou político.
Dividido em três secções, este artigo começa por contextualizar a prática da declamação dentro do panorama da educação da Antiguidade Tardia. Em seguida temos dois momentos de reflexão. Um primeiro considera a reformulação do herói iliádico por excelência, Aquiles, analisando a natureza controversa e ambígua do herói em dois progymnasmata de Libânio de Antioquia (8.3 e 9.1) e duas declamações de Corício de Gaza (Decl. 1 e 2). Num outro momento, abordam-se as conotações teatrais da declamação, analisando primeiro o herói guerreiro fanfarrão (Lib. Decl. 33) e depois o herói apaixonado (Chor. Decl. 5 e 6), explorando como ambas as figuras ecoam heróis análogos da Comédia Nova e do Romance Grego. Esta visão geral ilustra não apenas a evolução literária de tais personagens, mas também como essas figuras - e os géneros e autores principais anteriores nos quais estavam inseridas - moldaram a paideia da Antiguidade Tardia e, por sua vez, foram moldadas e adaptadas para se adequarem às expectativas sociais contemporâneas.

Referências

Anderson, G. (2007). Rhetoric and the Second Sophistic. Em W. Dominik, & J. Hall, A Companion to Roman Rhetoric (pp. 339-353). Oxford: Blackwell.

Arjava, A. (2012). Paternal Power in Late Antiquity. The Journal of Roman Studies, 88, pp. 147-165.

Billault, A. (1996). Characterization in the Ancient Novel. Em G. Schmeling, The Novel in the Ancient World (pp. 115-130). Leiden: Brill.

Booth, A. D. (1979). Elementary and Secondary Education in the Roman Empire. Florilegium, 1, pp. 1-14.

Brown, P. (1988). The Body and Society. Men, Women, and Sexual Renunciation in Early Christianity. New York: Columbia University Press.

Cresci L. R. (1986). Imitatio e realia nella polemica di Coricio sul mimo (Or. 32 Förster-Richtsteig). Koinonia, 10, pp. 49-66.

Cribiore, R. (2001a). Gymnastics of the Mind: Greek Education in Hellenistic and Roman Egypt. New Jersey: Princeton University Press.

Cribiore, R. (2001b). The Grammarian’s Choice: The Popularity of Euripides’ Phoenissae in Hellenistic and Roman Education. Em Y. L. Too, Education in Greek and Roman Antiquity (pp. 241-259), Leiden: Brill.

Fantuzzi, M. (2012). Achilles in Love. Intertextual Studies. Oxford: Oxford University Press.

Fernandes, V. (2022). A recepção da comédia teatral nas declamações de Libânio e Corício (Tese de mestrado não publicada). Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa.

Hadjittofi, F. (2016). Cross-dressing in the Declamations of Choricius of Gaza. Em R. Poignault & C. Schneider, Fabrique de la declamation antique (pp. 353-371), Lyon: MOM.

Hadjittofi, F. (2017). Homer is a Dancer (Oμηρος ὀ ρχεῖ ται): The Poet in Choricius. Em E. Amato, A. Corcella, & D. Lauritzen, L’École de Gaza: espace littéraire et identité culturelle dans l’Antiquité tardive (pp. 151-162), Leuven: Peeters.

Heusch, C. (2005). Die Ethopoiie in der griechischen und lateinischen Antike: von der rhetorischen Progymnasma-Theorie zur literarischen Form. Em E. Amato, & J. Schamp, ἨΘΟΠΟΙΙΑ. La représentation de caractères entre fiction scolaire et réalité vivante à l’époque impériale et tardive (pp. 11-33), Salerne: Hélios.

Kaster, R.A. (1983). Notes on «Primary» and «Secondary» Schools in Late Antiquity. Transactions of the American Philological Association (1974-2014), 113, pp. 323-346.

Kennedy, G. (1999). Classical Rhetoric and its Christian and Secular Tradition from Ancient to Modern Times. Chapel Hill: The University of North Carolina Press.

King, K.C. (1987). Achilles. Paradigms of the War Hero from Homer to the Middle Ages. Berkeley: University of California Press.

Konstan, D. (1994). Sexual Symmetry. Love in the Ancient Novel and Related Genres. Princeton: Princeton University Press.

Mackie, C.J. 1997. Achilles’ Teachers: Chiron and Phoenix in the Iliad. Greece & Rome 44, pp. 1-10.

Marrou, H.I. (1956). History of Education in Antiquity. (G. Lamb, Trad.) Nova Iorque: The New American Library.

Penella, R.J. (2009). Rhetorical Exercises from Late Antiquity - A Translation of Choricius of Gaza’s Preliminary Talks and Declamations. Cambridge: Cambridge University Press.

Penella, R.J. (2011). The «Progymnasmata» in Imperial Greek Education. The Classical World, 105(Fall: 1), pp. 77-90.

Robbins, E. (1993). The Education of Achilles. Quaderni Urbinati di Cultura Classica 45, pp. 7-20.

Sousa e Silva, M.F. (1996). Cáriton: Quéreas e Calírroe. Lisboa: Edições Cosmos.

Sousa e Silva, M.F. (2007). Menandro: Obra Completa. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

Watts, E.J. (2006). City and School in Late Antique Athens and Alexandria. Berkeley: University of California Press.

Webb, R. (2006). Rhetorical and Theatrical Fictions in the Works of Chorikios of Gaza. Em S. F. Johnson, Greek Literature in Late Antiquity: Dynamism, Didacticism, Classicism (pp. 107-124). Aldershot: Ashgate Press.

Publicado
2023-11-22